Rua da Esperança
Carlos
Mendes
Avistaram-se na Rua da Esperança.
Durante o rápido encaramento, suas almas se
corresponderam com o gêmeo ideal em embrião.
Havia mil razões para a concentração
popular lotando os calçadões daquela rua onde a variedade de lojas com os
artigos que ali se podia comprar, e admirada pelos sem renda suspirando às suas
portas, mas compensados pelas caixas de papelão, que ali podiam recolher para
venderem aos recicladores.
Naquela rua consumiam-se almoços rápidos,
frugalidades com cheirosos temperos impressionando as preferências dos ricos
comensais que a freqüentavam, principalmente nos meses de novembro e dezembro,
quando iam às compras dos presente de fim-de-ano.
Aquelas duas almas motivadas pelas mesmas
buscas, continuaram freqüentando diariamente a Rua da Esperança, depois do
demorado encaramento, e agora por duplo motivo. Mas nunca na hora do almoço
para não consumirem os exageros que podiam deixá-los na escassez nos dias que
faltassem os recursos provindos da coleta de recicláveis, pois a disputa por
eles era muito grande.
A esperança de emprego a anos timidamente
procurado e nos dias que abundavam as placas de ofertas nas agências existentes
na Rua da Esperança, cedera ao desejo de voltarem a trocar aquele olhar interessado
na múltipla fusão dos recíprocos sentimentos. Todas as tardes para isso viviam
e a renda da coleta dos recicláveis caíam.fazendo-os ainda mais pobres nas
posses, porém mais enriquecidos na esperança
de realização do impulso amoroso, novo motivo para freqüentarem a rua do
acalantado nome.
O tempo passou sobre eles e sobre a Rua
da Esperança e depois de tímidas tentativas de aproximação, eles pararam um
diante do outro e, sem palavras, seguiram caminhando juntos. Depois de poucos
dias andavam de mãos dadas e passados dois meses, um abandonou sua vaga de
repouso sob um viaduto, indo morar na vaga do outro, sob uma outra ponte.
Passados nove meses a estatística dos
sem-teto recebeu nova alma por acréscimo.
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