sexta-feira, 26 de abril de 2013

Exortação


Humilhai-vos perante a potente mão de Deus
Um recado aos meus irmãos, que receberam de Cristo a missão de conduzir os seus rebanhos aqui na terra.
Carlos Mendes.

Por que o andar altivo, o olhar arrogante, quando podes ser reprovado no que concordas ou discordas?
Manténs sobre ti mesmo um conceito elevado? Principalmente se pensas assim em função de um reconhecimento por don(s) recebido(s) de Deus, sê tão somente agradecido a Deus e luta contra a tendência de te elevares acima de teu próximo em função do(s) dom(s) verdadeiro(s), os quais procedem de Deus, pois do homem natural nada vem de bom a este mundo.
Lembra que jamais produziste coisa alguma boa por ti mesmo. O que tiveres conseguido diretamente de teus empreendimentos pessoais, ou são herdadas por ti através de tua fé em Deus, ou foram outorgadas a ti por promessa(s) de Deus a teu(s) antepassado(s), pois Deus é fiel, mesmo perante quem ainda não esteja em fidelidade perante Ele, pois as bênçãos de Deus acompanham os descentes daqueles que Lhe são fiéis.
Se já és de Deus em Cristo Jesus, não te eleves a ti mesmo! Cumpre a tua vocação de modos a que todos quantos, através de ti receberem de Deus, louvem-No pelo que te concedeu fazerres.
Pesa bem aquilo que o famoso estagirita do terceiro século d.C ensinou acerca da humildade natural de um chamado por Deus: “Se estivesses realmente cheio, não andarias tão inchado).
Vê bem como andas... Reflete em Gálatas 6:3, meu irmão! Se és líder, tens a responsabilidade de ensinares, pelo teu exemplo, as ovelhas altivas. Isto não quer dizer te tornares “bisonho”! Lidera com amor, e terás sabedoria; e serás ouvido pelos que verdadeiramente são de Cristo. E nunca te deixes mover pela inveja, pois maior é o teu chamado entre quanto se possam contar neste mundo.
Se tu és Ministro do Evangelho, então imita o caminhar de Quem vai à frente do rebanho que colocou sob os teus cuidados.
Serás engrandecido, exaltado, glorificado, se aqui seguires a caminhada do teu Salvador.
(Tiago 4:10; 1 Pedro 5:6)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Certificado


A poesia de Carlos Mendes


Vem, Espada do Espírito!

Coisas sem graça esses achincalhes, / que se expõem atrevidos aos sensos gozadores /
e aos perversos e triviais detalhes / bagunçando ouvidos pensos entre fé e horrores.

Coisas tão tinhosas aos ouvidos ditas, / manchas escabrosas enodoando a veste, /
sentimentos perversos entre belemitas / de manias faustosas que não há qual preste /

Duro juízo vem pro endiabrado,  /  gente tonta e bruta; gente que não toma jeito /
nem se presta pro empunhar o cajado / do Senhor, mestre da salvação a eito.

E há quem respeite esses faladores /  com comichão na língua zombeteira. /
Mais deviam esses tais palradores / aprender lição não enredadeira

Carlos Mendes
Escritor e romancista
Autor do romance “O Milênio e o Tempo
09/05/2011

Um preâmbulo à mensagem enviada, aNo passado, respondendo a convite do Pr. Eg-Lom de Moraes, da Igr. Batsita de Vila Carmosina

Quero sim estar ai, de Cristo Cidadela.
Somente agora aqui não está a Estela
E não quero ir pela primeira vez sem ela!


Jesus sorriu pra mim!

Ver Jesus sorrindo? Qual é, meu bom irmão!
Vê-lo em aflição, poucos o viram assim.
Saber que Ele sorri, eu vi ao dar-me a mão
Sorrindo, por também poder salvar a mim.

Hoje brincamos, como contou o Sabino,
Brincando quais crianças alegres num jardim.
Sim, Ele brinca sim. Brincadeira de menino,
E eu a Ele me apeguei como macuim 

Desculpe rejeitar a letra doutro hino,
Pois me sinto tão feliz quanto um Benjamim,
Menino nascido para feliz destino 

Gosto de lembrá-Lo com este anexim
Sabendo que Dele é este domínio
Ao qual também estou arraigado, enfim 

Carlos Mendes
Finalizado às 18h26’ do dia 23/09/11 ao abrir a caixa de e-mail e
ler mensagem do bom amigo Glandio Xavier, a quem dedico
este soneto.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Leitura recomendada


 RAUL MENELEU  

Artiguetes


Ilha do Amor

 Geraldo Duarte*


O professor Dante Abrantes D’Almeida e Souza procurou-me. Desejava saber se eu possuía obras sobre a colonização das ribeiras do Acaraú e localidades adjacentes.

Disse-me descendente do capitão-mor Pero Coelho de Souza, seu octavô, cunhado de João de Barros, donatário da Capitania Hereditária da Paraíba, vindo ao Ceará, em 1.603, para fundar, na Cordilheira da Ibiapaba, a Nova Lusitânia.

Segundo pesquisara, a região, habitada por índios Tabajaras e Tapuios, desde 1594 era explorada pelo corsário francês Bombille que, das matas do pau de cores (pau-brasil), contrabandeava a madeira.
Exitoso na colonização da área, incluindo terras do hoje município de Camocim, estendeu o domínio ao acidente geográfico ora denominado Ilha do Amor, com seus 700 hectares.

O mestre, segundo informou-me, buscou documentos até no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal. Infelizmente, devido ao grande terremoto de 1755, em Lisboa, papéis importantes extraviaram-se na transferência do acervo do Castelo de São Jorge para o Mosteiro de São Bento. Possivelmente, até os dos fatos ocorridos no Ceará.

Emprestei-lhe livros de autoria do historiador e general do Exército Jarbas Cavalcante de Aragão sobre a Comarca de Sobral, o Sesquicentenário do Nascimento de Manuel Ferreira Cavalcanti e Terra e Gente da Ribeira do Acaraú, bem como Homens e Vultos de Sobral, obra do monsenhor Vicente Martins. Antigos e precisos documentários.

Existindo brasileiros na posse de ilhas, Abrantes, único herdeiro de Pero, vê-se no direito de usufruir a do Amor.

Logo complete a papelada, disse-me que requererá o domínio em Brasília.
                               
                                       *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.



















segunda-feira, 22 de abril de 2013

Crônica


A razão da idade
Carlos Mendes

   Não me lembro muito bem se a década do acontecimento que pretendo explorar foi a de sessenta ou a de setenta. Num detalhe a recordação não me engana: foi meu irmão Narciso, leitor assíduo dos bons jornais que circulam em todo o Brasil, que me disse:
       Tem razão o Nelson Rodrigues - e mostrou-me, ato contínuo, o artigo que o talentoso jornalista e dramaturgo escreveia para o Jornal da Tarde.
   Peguei o jornal para o Narciso não ter de ficar a segurá-lo quase encostado ao meu nariz e li, em voz alta como ele esperava que eu o fizesse: “Vivemos na era da razão da idade e não na idade da razão, bastando ser jovem para ter  razão”, arrematava Nelson Rodrigues com o seu costumeiro estilo elegante e ao mesmo tempo contundente.
   Na ocasião eu não consegui furtar-me de pensamentos críticos, que em certa altura posterior da minha vida imaginei atrevida, radical e leviana. Ah, aquela idade em que pensamos ter vencido as tendências irresponsáveis para assumirmos os compromissos de adultos! “O Nelson Rodrigues distila com a sua pena as tintas das frustrações de um velho”, pensei “sapientíssimo!”
   Posteriormente, chegando à “idade da razão” (ou será “razão da idade”?), percebi ter vivido uma era ímpar no devir da sociedade humana. Vivi-a quando ainda não possuía um juízo criterioso para entender as razões do formidável embate entre os atores daquele momento histórico pós-beatleliano.
   Na década seguinte (terá sido a de setenta ou a de oitenta?) pareceu-me que a cisão ganhou outro feitio, com super-pais e super-mães tutelando seus “infer-filhos” e suas  irresponsabilidades. Antigamente, eles eram poucos e os chamávamos “dandy”.
   Hoje em dia, convivendo com a minha quarta geração pergunto: “O que está acontecendo com a era posterior que nos trouxe o partilhar paternidades responsáveis de pais educadores que cumpriram bem o seu papel sem privar os filhos de suas próprias dignidades pessoais? Essa época ligeira em que eu vi reciprocidades amistosas e respeitáveis entre pais e filhos, com absoluta indiferença sobre a idade da razão ou das razões da idade, onde, construindo um belo poema da vida, um pai se deixava admoestar por um filho, ou este guardar respeitosamente os bons preceitos ensinados pelos pais? 

sábado, 20 de abril de 2013

Artigo


Comando e hierarquia

*Carlos Mendes


Diz um antigo adágio popular: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”.
O tal dito coloca o conhecimento humano na ordem do que se consegue apreender pelo juízo crítico independente dos fenômenos que marcam os estados de transformações dos fatos sociais. As transições entre o mal e o bem quase sempre acontecem diante de um agravamento ou amenização das situações vivenciais, pois o que é bom sempre pode melhorar antes de um declínio ao estado oposto.
Nós, brasileiros, passamos pela dolorosa fase de piora de um estado que já era ruim na nossa vida social, seja quanto aos aspectos materiais, psíquicos ou morais originados pelas larguras de poucos, causando as aperturas na esmagadora maioria, agora com uma exceção vergonhosa que coloca artificialmente a numerosa classe dos desvalidos, estes secularmente carentes dos benefícios cidadãos pela incúria deste nosso Estado brasiliro perverso, que sempre se prouve na rapinagem favorável aos seus apanigüados.
Continuando na argumentação da tese dos reversos, colocamos um ensinamento de um tio, empresário muito competente: “Para melhorar, a coisa tende naturalmente a uma piora”. Nenhum outro ensinamento que aprendi nas escolas de economia me impressionou tão fortemente quanto o antigo clichê do velho e já falecido tio, paradigma do empreendedor que conseguiu consolidar-se financeira e economicamente, e de tal modo, que promoveu o bem estar de suas próximas gerações. E tudo realizou sem nenhum arranhão à sua notoriedade de homem de bem. E eu não saberia afirmar se foi o axioma que forjou a vida desse tio, ou se foram as suas virtudes que fortaleceram o axioma.
Infere-se da autoridade, que nasce na esfera pública por meio dos votos livres dos cidadãos, que ela produza regras sociais que promovam o máximo de segurança e satisfação para todos os cidadãos. Mas o bom efeito dessas regras (leis) está fundamentalmente ligado aos caracteres justos de legisladores honrados e fiéis ao mandato recebido de seus eleitores, pois deste senso real nascem das eleições duas categorias que estão estreitamente vinculados: Eleitores, que formam a hierarquia superior de um mandato político, isto é, que se tornam mandantes[1] do cargo político que elegeu o escolhido; e,  depois, num segundo escalão, os políticos, pois exercem o seu mandato como mandatários[2], pois receberam pelos votos uma representação popular para executarem os seus mandatos
Em suma, o político ao ser eleito, assume perante os seus eleitores, e também perante o país, a responsabilidade pública de cumprir bem e confiavelmente o seu mandato cumprindo bem o programa político com que ele, eleito, conquistou pelos votos, sendo lídimo e transparente o direito dos eleitores (mandantes) da sua gestão política cassar o mandato político daquele a quem elegeu.
Estas questões, todos os brasileiros razoavelmente instruídos sabem que são obviamente legítimas. Mas também conhecem a impossibilidade desse esclarecimento avultar ao ponto de correção desta chaga mentirosa conhecida no mundo como: “governo do povo para o povo”, pelo que deveríamos tratar de corrigir com urgência esse modelo atual, que calculo altamente fraudulento.


[1] adj.2g. e s.2g. 1. (Pessoa) que manda. / adj.2g. e s.2g. 1. (Pessoa) que manda.
[2]. s.m. 1. Indivíduo que recebe ou executa mandato. 2. Representante; procurador; legado.
Antôn.: mandante.
Nota: (Antônimo= adj. e s.m. (Gram.) (Vocábulo) que tem significação oposta à de outro.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Linhas mal traçadas



Vejam a história medíocre que eu tenho para contar
Carlos Mendes


Quase no raiar da década de 60, o acontecimento romanesco da revolução de Sierra Maestra despertou o ardor quase inocente dos adolescentes brasileiros, que ainda não haviam adentrado na juventude, originando uma vaga de paixões beligerantes, próprias das inquietudes nessa idade.  
Poucos anos antes, os ideais de liberdade política foram atiçados pelo final da ditadura Getulista e a primeira eleição pública. Depois de longos anos da ditadura decretada pelo nascimento do Estado Novo, se podia agora votar e escolher livremente o governante supremo da nossa nação.
Esses paradigmas foram dramatizados como peças de um romance nas mentes esperançosas dos adolescentes brasileiros. Eles como que despertavam para o sonhado anseio de libertação das severas tutelas paternais, pois para muitos desses adolescentes o modelo de criação reinante era opressivo, levando-os a sonhar com a liberdade que, conscientemente ou não, pensavam ter finalmente surgido.
Mas, infelizmente, o clangor que soou de “Sierra Maestra” levou muitos desses nossos jovens ao ativismo ao modelo Cubano, governada por um Fidel, que em poucas décadas mostraria ao mundo uma Cuba dominada pelos piores ideais comunistas, isto a despeito de o regime político que o inspirou ter caducado na Pátria que o ajudou a instalá-lo em Cuba.    
E entre nós agora acontece o mesmo. Com a diferença de não ser uma grande nação que nos inspira, mas as ridículas Cuba e Venezuela.

Era de se esperar, pois hoje em dia carecemos de grandes e significativos líderes como foram os dois grandes estadistas: Juscelino kubitschek e Humberto de Alencar Castello Branco.

 

De um brasileiro de coração brasileiro, mas frustrado com os medíocres brasileiros que têm governado o Brasil. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

“Teoria do design inteligente”


Criacionismo ou evolução?

       Neste último domingo eu ouvi a palestra “Teoria do design inteligente”, proferida pelo Dr. Marcos Nogueira Eberlin.
       O tema lembrou-me dos postulados metafísicos da Idade Média, inspirados pela obra de Aristóteles “Lições de Física”, recolhida por ANDROMICO DE RODES no século 1° a. C.
       No final do dia de ontemn eu pesquisei no google e constatei que essa nova moda, ou teorização intitulada “design inteligente”, é outra reação de cientistas evangélicos contra o que seria uma espécie de agnosia científica praticada pelos evolucionistas, com suas propostas contrárias à revelação de Deus como Criador do Universo e revelador de si mesmo, e das obras criadas por seu desígnio pessoal, estas, assinaturas dos seus portentos, onde sobreleva-se o homem, para quem tudo criou e, depois do pecado, para esse homem enviou Deus seu próprio Filho Unigênito, Jesus Cristo, “para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)   
       Tudo o que vi e ouvi sobre as demonstrações científicas que bem ilustram as assinaturas de Deus na criação inteligente do universo, onde está a terra, que sabiamente o palestrante chamou de “suite do universo”, testemunham eloqüentemente sobre as assinaturas de Deus em toda criação. Mas não consegui deixar de perguntar: Como poderá a ciência aplicada no “aqui e agora” a coisas terrenas, levar incrédulos a crerem para a salvação?
Carlos Mendes


Ver glossário: “Design inteligente”

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Teoria do Design inteligente

A teoria do design inteligente é científica

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Exegese


Evangelho de João, Capítulo 15: 1 a 3

1 - Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 
2 - Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
3 - Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. 

Enquanto apliquei esforço intelectual na aprendizagem dos ensinamentos de Jesus, na passagem bíblica que me serve de base para esta meditação, só consegui apreciar a beleza estética da parábola, gênero culto de literatura.
         Parábola, espécie de alegoria ou apólogo com ensinamento moral é gênero que já encontrara antes de me apegar à leitura da Bíblia, nas famosas fábulas “A formiga e a cigarra”, “O Cordeiro e o Lobo”, que La Fontaine escreveu na renascença literária francesa, entre outras também muito conhecidas, sendo este estilo um método empregado no discurso, onde as verdades morais ou religiosas são ilustradas pela analogia entre  os fatos da vida comum.
         Muitos ensinamentos de Jesus são riquezas deste  gênero literário, que também explora a alegoria para inculcar uma verdade onde falam animais ou seres inanimados. Portanto, na qualidade de homem Jesus legou-nos muitos tesouros literários. De homem para homem ele falou o que os seus apóstolos registraram, construindo um acervo literário simples e acessível, erudito e espiritual.
         As expressões alegóricas impressionam o sensório, onde a nossa sensibilidade é ativada, favorecendo o surgimento de um fenômeno psíquico-neurológico conhecido como cognição
         A passagem em João, 15, impressionou-me durante muitos anos e recentemente esforcei-me para compreende-la em sua profundidade intrigante, pelo que apliquei-me em pesquisas hermenêuticas(2) e epistemológicas(3). Desse esforço não resultou mais do que novos reconhecimentos superficiais. Com esses equipamentos não consegui senão uma visão melhorada do texto literário. Entendi, então, que faltava a revelação presente no texto, pois ele não expressava apenas o falar de um homem admirável, mas os ensinamentos incomparáveis do Onisciente. E ao sentido do que Deus fala só é possível chegar por revelação do próprio Deus. Como isso aconteceu comigo, já experimentado em muitos desses insight(4)? Com certeza esquecera-me de buscá-lo em João, 15. Coisa intrigante o que a miúdo se passa conosco. Portanto, que ninguém se encha de jactância, disse eu para mim mesmo ao lembrar-me do que a própria revelação de Deus tantas vezes me ensinara.
         Inclinei-me então para buscar a revelação de Deus nesse texto e a iluminação começou a brotar naturalmente. Eu argüia a Deus sem pressa, passo a passo, versículo por versículo e Dele recebia de revelação em revelação. Respostas simples eu recebia em doses continuadas. Vez ou outra a iluminação tardava, mas não me afligia pois estava cheio de fé condicionada à certeza que havia tesouros infinitos na passagem. Já correu uma semana e eu continuo buscando esses tesouros. Aos que já cheguei vou mostrar. Mas sobre tais tesouros, não pensem os que lerem estas linhas que os terei esgotado nestas mostras do que me foi dado entender da parte de Deus, pois haverão outros à disposição dos que, sem pressa, começarem a se abeberar nesta pequena passagem cheia de fontes inesgotáveis de revelações dos mistérios de Deus.
         Vejam que coisas simples eu tenho para contar:
         Argüi o versículo 1 e entendi que Deus continua trabalhando na sua lavoura e cuidando da única videira que nela está plantada, pois se não houvesse mais trabalho a fazer na lavoura não haveria mais a figura do lavrador: “Meu pai é o lavrador”. A menção “meu pai é” firmou a minha fé no tempo presente e procurei saber quem acabara de falar-me e achei então Jesus falando comigo no presente e através do texto. Falava comigo no presente e estava presente nas palavras do texto. Falou “eu sou a videira verdadeira” e revelou-me que estava sob os cuidados de um lavrador que era o seu pai ao dizer-me: “e meu pai é o lavrador”:
         Quem falava comigo não estava sozinho no mundo; mundo e lavoura de Deus com uma única videira nele plantada. Única verdadeira na lavoura de Deus. Portanto, não havia outra do mesmo gênero e conforme a revelação no presente, presente na lavoura, que é o mundo, ela no mundo continua. A videira não está solitária num ermo, pois sobre a lavoura trabalha o lavrador e também eu, pois existo nesse tempo presente. Contados o lavrador, a videira e eu, éramos então três na lavoura? Quem arriscará contradizer?
         Descoberto que a videira é Jesus, passo a ouvi-lo falar as palavras do versículo 2, e entendo que ele continua falando da videira e dos cuidados do lavrador. Agora a videira é referida pelo pronome pessoal “mim”. Jesus personaliza-a em si mesmo como fonte produtora de frutos, pois para esta finalidade fora plantada na lavoura (Mundo) do agricultor. Argüindo o sentido da comparação, precisei socorrer-me nos versículos seguintes onde me identifiquei como um ramo enxertado naquela videira. Em primeiro lugar, entendi que a  videira não tinha este ramo quando o agricultor plantou-a na sua lavoura. O agricultor não a fez nascer de um ramo ou de uma semente. A videira era, então, preexistente em relação à lavoura. Em segundo lugar eu entendio que é na lavoura que a videira recebe os seus ramos e que serão neles  que nascerão os seus frutos. Para esta produção são enxertados pelo trabalho do agricultor, que poda os ramos que não cumprem esta finalidade de frutificarem. Mas se não dão frutos são como os parasitas que o agricultor remove para não consumirem inutilmente a seiva vital que alimenta os ramos produtivos. Em terceiro lugar eu entendi que ao lavrador interessa melhorar o vigor natural dos ramos produtivos para que os frutos se multipliquem sempre em maior escala.
         Recebida esta revelação como sendo vara de uma videira, considerei que a minha finalidade como homem no mundo (ramo da videira na lavoura do agricultor) era a produção. Mas, qual o fruto que o lavrador desejava colher deste ramos?
         Ao versículo 3 não preciso argüir, pois as revelações dos dois primeiros produziram a certeza de que é por meio da fé que faço parte do corpo de Jesus (videira da lavoura de Deus). Mas o versículo traz uma revelação animadora da parte de Jesus para mim, quando afirma que a palavra que ele me tem falado já me limpou. Então exulto ao descobrir-me vara produtiva e cheia de vigor para a reprodução do amor de Deus, porque “Deus é amor” (João 3;16; 1 Coríntios 13; 1 João 4:8 e 4:16). Amor conforme Paulo o expressou em Romanos 5:5.

         Carlos Mendes
         Também exegeta bíblico.
         Escritor, poeta e cristão alinhado com a doutrina bíblica dos evangélicos batistas.

terça-feira, 9 de abril de 2013

AOS LIVREIROS OU ENCARREGADOS DE LIVRARIA NA IGREJAS DE CRISTO

O autor desta obra é membro da IBVG-Igreja Batista em Vila Gerte, São Caetano do Sul, SP, desde 1995. Hoje em transição para a IBC - Igreja Batista em Santo André, no mesmo Estado brasileiro.
É autor do livro "Missões Metropolitanas", que contém o tema de sua vida: a sua experiência como evangelista, por Deus vocacionado, à serviço da PIB-Primeira Igreja Batista em Suzano, onde foi membro e exerceu esse ministério por longos 18 anos, sendo desbravador de quatro Frentes Missionárias onde a igreja plantou quatro novas Igrejas de Cristo. Por isso, deu à obra o sub-título: "Missiologia prática de um evangelista". Em 1993 o novel pastor Alberto Kenji Yamabuchi, hoje pastor na IBVG e também Cientista da Religião, Doutor em Teologia e professor na Faculdade Batista das Perdizes, São Paulo, Capital, informou ao autor que a tese citada foi utilizada no último semestre de sua formação superior, nessa mesma faculdade.
Carlos Mendes dedica-se inteiramente às letras desde 1993. O romance, folder acima, é a terceira obra do gênero evangélico que escreve, além de dezenas de Contos e Contos Ligeiros amplamente divulgado em seu blog: "LogosNews", link abaixo.
A obra deste autor é ampla e sua participação como literato muito reconhecida no ABCDM, região com mais de 3 milhões de habitantes, no Estado de São Paulo.
Carlos Mendes
Residência: Rua Kaneo Hashimoto, 14 - Estância Noblesse - Ribeirão Pires - SP, onde vive há 24 anos com sua espôsa, Maria Estela Mendes, com quem é casado há 57 anos.
Blog: http://egeneto.blogspot.com
E-mail: amigosdasletras@terra.com.br
http://www.facebook.com/blogdocarlos
Tel.: (11) 4825-6702 Estela e/ou Carlos
Celular vivo: 9 72678232



segunda-feira, 8 de abril de 2013

O Arbítrio Conto de: Carlos Mendes


    Personagens:
         O Arbítrio
         Personagens:
         Arbítrio, narrador e personagem principal da história.
         Castão, Moralista que vive fazendo sermões.
         Infausto, É o protagonista que vê desgraça em tudo.
         Pôla, personagem que interage como opositora ao arbítrio, que a quer convencer sobre os bons arbítrios.
         Pureza e Trindade, personagens figurantes. Tímidos, eles interagem mais como ouvintes e espectadores; são agentes passivos que deixam conhecer os seus sentimentos íntimos pelo que pensam e pelas reações emotivas que transparecem nos seus gestos e expressões fisionômicas.
         Santelo, é o personagem que pertence a memorialista de Arbítrio, que cita ensinamentos deste mestre para sustentar suas exortações. Santelo é o paradigma do “pescador de homens”, vindo daí o seu nome. Os fatos ligados a este personagem são verossímeis, pois eles estão ligados a fatos reais que o autor deste Conto Ligeiro ouviu de seu pai.
         Informações sobre o texto
                Frases e períodos do conto ligeiro O Arbítrio foram escritos com palavras do mesmo grupo fonético, o que emprestou sonoridade à audição da obra, se declamada. O leitor também encontrará alguns ornamentos de linguagem que atenderam o propósito de emprestar-lhe um quê poético.   


O Arbítrio


Quando Santelo se fixou por ali, logo todos o consideraram cheio de paixão pelas almas. Pôla, como era conhecida Paula pelo feito lingüístico do irmão caçula  ao  balbuciar-lhe o nome pela primeira vez, chamou para si a atenção com o costumeiro e ruidoso muxoxo que fazia quando ouvia o que não a agradava.
       — Paixão é coisa que se tem pelo concreto – disse sacudindo as pernas curtas abaixo das saliências laterais das fartas nádegas esparramadas pelo assento da cadeira, embora premidas pela calça de fustão turquesa que trajava.
       Sentado na poltrona em frente de Arbítrio, que sempre lhe fornecia a base dos pensamentos, e prior natural das questões colocadas para o grupo, Castão tinha a carranca fechada e olhos postos em Pôla, tola perante o seu parecer. Não ficou só na carranca. Foi prontamente falando:
       — Sem fé não se tem chance de conhecer os postulados da Palavra...
       Da discrição passou para o conselho:
       — Ó Pola, deixe a boa visão de Deus governar os teus zelos.
       — Gosto do vocativo dessa zanga do Castão – disse Infausto juntando-se à valorosa demanda. – Duro juízo vem!..., bradou valorizando o “vem” do vaticínio.
       — Os sermões do Santelo destinavam-se a pequenos peixes – balbuciou Pôla amuada.
       — Porque preferia trabalhar com os desvalidos?... És capaz de compreender o quanto procurava preparar-se para chegar a eles? – defendeu Arbítrio.
       — Qual a cultura desses pobres párias para que precisasse de preparo? – Póla continuava sarcástica.
       — Significação cheia de parcialidade. Pecado que pode conduzir-te ao subterrâneo dos falecidos! – proclamou Infausto.
       A volúvel zombaria de Pôla não justificava a fala fatídica de Infausto, julgou Arbítrio. Enquanto vivesse seria viável a sua salvação. 
       — Santelo zelava pela liberdade real
       — Real ou sonho sem sentido? – zunil a sibilante reação de Póla.
       Calando-se quanto ao rumo da conversa, Arbítrio governou o conselho com a razão do seu Rei.
       — Falsidades são todas as coisas que conhecemos; não são feitas do que parecem ser. Se te puseres a calcular a tua felicidade por elas, falharás! – pregou Castão.
       — E amor ardente não olha o aparente. O mundão é lindo, mas só tem presente.  Ele não terá mais amanhã quando findar – suave e lento Arbítrio ia falando.

       Pôla ficou calada e ele continuou tentando convencê-la da etérea existência da alma, objeto da paixão de Santelo.
       — Jovem baderneiro ganhava duvidosamente a vida. Santelo, vizinho dele, garantiu-lhe a vulgaridade do seu viver desbaratado. Vejam o jeito do jambeiro... – disse Arbítrio com voz de zéfiro. – ...Sua pequena tela se fechando para pegar esse peixe tão chué, pequeno, todo tisnado de tantos pecados.
       Fez pausa para pensar.
             Pôla botou as mãos nos bolsos da jaqueta vendo Castão boquiaberto e Infausto vangloriando-se da desdita do jovem vilão bem descrito por Arbítrio.
       — Transformou-se o mal menino?
       Castão perguntava e Pôla se chateava pelo feito. Ficavam calados os bons de ouvido. Um era o Trindade, chamado assim pela fé dos pais nas três pessoas do Todo Poderoso, ao se converterem. Do sexo feminino era quem se sentava próximo de Castão; se chamava Pureza e tinha procedimento condizente com o nome.
       — A bondade de Deus deu-lhe a vida e Santelo dedicou-se a guiá-lo na busca do galardão zenital – disse Arbítrio jubiloso.
       Infausto falou do trágico fim de Pôla, chamando-a de perdida contumaz caso ficasse titubeante perante o sacrifício de Cristo. 
       — Vê bem, Pôla: justiça deve governar a vida e Deus gosta da bondade – garantiu Castão.
       — Conta-se que Santelo, dia ainda cedo, com unção de talento procurava sem pejo jagunço violento. Achou-o desbotado, sem cor e sem fama debruçado num balcão tomando uma Brama. Justo em bar de ladrão entregando volantes, estendeu a sua mão ao violento vilão. Palavras vibrantes de misericórdia provocaram discórdia entre os meliantes. Ameaçou Santelo o vilão mais franzino vibrando um martelo. Outro, o Tomazino, punhos qual cutelo, defendeu o Santelo.
       Com zombaria no olhar relutante e laborando solapar o raciocínio, Pôla ruminou:
       — Pões contos da carochinha no argumento. No fundo tal situação não se sustenta.
       — Sem falsidade te falo. E conto fatos consumados pela pregação da fé em Cristo  perante tantos quantos creram.
       — Tens de outro um testemunho não duvidoso?
       Arbítrio girou o olhar e falou:
       — Lembro de um bom para contar.
       Pôla, mãos guardadas nos bolsos, verga-se devagar e engole a baba para não vazar da boca já disposta a balbuciar suas dúvidas.
       — Teu ceticismo transparece sem pronunciares palavra – falou Castão com semblante tristonho.
       — Ainda que talentoso o argumento, bem a voz calando, Pôla nem no amanhã se encontrará diante da senda da esperança – sentenciou Infausto.
       O taciturno Trindade e a sincera Pureza pareciam querer chorar. Suspiraram calando o pranto pronto para corromper sentimentos chocantes.
       Almas bondosas e desgostadas com a vetusta injustiça da vida debalde vivida.
       Parece que os feridos cuidados da paixão pelas almas sacudiram os sentimentos de Pôla, pensou Arbítrio se animando a contar-lhe a história.
— Certa vez Santelo conheceu um comerciante que se proclamava ateu. Materialista e bem de posses ele tinha certezas confusas, pois freqüentava sessões espíritas...
       — Materialista, mas não muito!
       Pôla manifestava anuência. Muitas noites e até em madrugadas manipulou seu gnomo.
       — O que o comerciante fazia? – perguntou Castão.
       — Tinha empresa de construção civil e sócio pouco fiel. Quando construía outro  salão  de  cultos para uma igreja conheceu o congregado Santelo e contou-lhe que o sócio o estava fraudando tanto que, fatalmente, perderia  a sua parte na sociedade. Se tal acontecesse, o mataria; nem mais nem menos, pois a sobrevivência da família dependia da firma.
       Pureza desgostou-se diante da ostentosa violência.
       Arbítrio demorou para continuar. Parou, tossiu, percebeu a comoção e prosseguiu:
       — O homem tinha necessidade de dizer-lhe tudo e esperava conhecer melhor conselho para se livrar do medo de “pirar”. Contou todos os seus cuidados a Santelo e perguntou-lhe:
       — “O quê eu posso fazer?”
       — “Confiar” – foi a resposta.
       — “No quê?”
       — “No quê não.”
       — “Em quem?!...”
       — “Sim, em Cristo!”  foi a palavra de poder de Santelo.  O comerciante queria confiar, tão precisado estava de solução para o seu caso. Depois de dias e já gozando boa disposição voltou a avistar-se com Santelo e lhe disse:
       — “Desafiei Jesus!”
       — “Qual o repto?”
       — “Falei-lhe: Te chamam Filho de Deus; se podes compadecer-te, prova-me solucionando o problema que tenho.”
       — “Qual a resposta?”
       — “Silenciosa e real!”
       — “Ganhaste um Rei?”
       — “Sim, um Monarca bom e majestoso!”
       Pôla tinha colocado um chiclete na boca e Castão falou que o seu consumo não tinha proveito. Só provocava ferida no estômago!
       — Quem gosta de bobagens verá jorrar os danos das gulodices descontroladas – vaticinou Infausto.
       Tirando os pés do travessão de apoio da cadeira, mãos postas no assento e abaixo das cochas, Pôla começou a sacudir as pernas curtas. Indiferente, punha os seus olhos ora no pregador ora no profeta de tragédias. Ia preparando com a língua a pasta do chiclete até se fazer uma película fina que prendeu aos lábios. Soprou uma bola que foi aumentando até estourar. O chiclete se lhe pegou aos lábios e nariz. Ela o lambeu e começou uma Mastigação barulhenta simbolizando o seu desprezo total pela pregação e advertência dos dois. A seguir falou enfrentando a feição pacífica de Arbítrio:
       — Desejas tornar-nos nativistas das tradições fenomenais; não duvido da tua narrativa. Todavia tal notícia não faz parte do dia a dia dos denominados discípulos de Jesus.
       — Argumentas com a realidade, mas não granjeias razão; quanto relatei, garanto. A Graça não é remédio contumaz, ainda que se compraza no governo dos remidos por Cristo.
       Arbítrio conservava o olhar sereno fixado na face de Póla, que se quedava calada.
       — Sob o sol se acham pântanos infestados por sucuris e prados cheios de flores; tem também a fé dos fiéis que consterna o coração do Santo Pai a conservá-los em portos seguros. Mas é na bondade de Deus que o justo alcança galardão, bastando vigiar boa jornada que agrade o seu juízo, onde desponta o desejo de ganhar viajores vindos da desventura, jornada de volta dos justificados por Jesus.
       — Sem essa lealdade sujeitam-se à ruína? – zomba a relutante Pôla.
       — Não há diferença. Justos e injustos estão debaixo do juízo de Deus.
       — A desgraça vem de Deus? – pergunta Pureza, bisonha.
       — A verdade vem de Deus. A desgraça vem do homem, por deter a verdade em injustiça, julgou um dia Santelo com base na Bíblia e diante de alguém que jogou esse argumento.
       — Que confusão!
       — Compreende, Pôla – falou Arbítrio em seu socorro –, o conhecimento sem a fé sustenta a falsidade.
       — Considero fanatismo pensar que o sujeito do conhecimento só será capaz de proposições verdadeiras se tiver a tua fé – argumentou Pôla em testemunho da sua capacidade filosófica.
       — Ponderando sobre a falsidade – falou Arbítrio sem se perturbar – a sua preocupação é com o conseqüente sem considerar o antecedente. Se chamamos verdadeira a coisa criada, fica sem sustento a ponderação da criação por um poder passivo. Falsidade filosófica, portanto.
       — Podemos falsificar o processo criativo, Pôla? – perguntou Pureza
       — A falsidade troca confidências com a perdição quando pondera sobre o fato e conclui que ele é cousa surgida sem causa produtora – acrescentou Infausto.
       — Deus não se agrada da dúvida do viandante...
       — Com farnel de boas obras, o breu da noite nos devolve à vida – interrompeu Pôla a fala de Castão, cuspindo o chiclete na cesta de papel atrás de sua cadeira.
       — Lembro de um caso contado por Santelo...
       Arbítrio tinha os dedos trançados e anúncio no olhar ditoso.
       — Galdino, que trabalhava de engenheiro e tinha casa perto de uma paróquia, foi visitado por Santelo já na virada da sua vida. Lia suas literaturas religiosas na sala onde estavam misturadas publicações espíritas, mapas zodiacais, Bíblias azuis, amarelas e pretas; pequenos boletins da paróquia, bandeiras místicas, pés de coelhos, mantas de presbíteros. Santelo fez-se anunciar falando que trazia convite para a família participar de uma importante cerimônia. Diante daquela galeria de objetos no interior da casa –  coisas como a garantir a bem-aventurança de Deus – deparando-se com as Bíblias pergunta:
       — “Crês na Bíblia?”
       — “Creio – garante Galdino e continua:      — “És religioso?”
       — “Sou pescador de homens, conheces a frase?’
       Galdino afunda na cadeira, receando o rumo da conversa.
       — “Crês que a Bíblia é a Palavra de Deus?”
       — “Não tenho nenhuma dúvida disso”.
       — “Crês em Jesus?” – seguiu perguntando o Santelo.
       O “creio” era pouco convincente.
       — “Quem é Jesus?” – Santelo queria saber qual o tipo de fé de Galdino em Cristo.
       — “Entre os espíritos luminares ele seria o sol.”
       — “Crês que Ele é o filho do Todo Poderoso?”
       — “Não.”
       — “A Palavra pode confirmar que sim.”
       — “Mostra-me, então” – desafia Galdino.
       — “Qual a Bíblia que eu posso usar?” – pergunta Santelo apontando para as que estavam na prateleira próxima.
       — “Aquela ali” – aponta Galdino para uma delas.
       — “Essa é a única que não serve, e creio que  sabes disso.”
       — “Então escolhe a que quiseres.”
       Santelo estende a mão e pega a Bíblia editada pelos espíritas. Galdino sorri sapientíssimo e acompanha a busca de Santelo na Bíblia até começar a ditar-lhe a passagem:
       — “Tomé respondeu e disse-lhe: Senhor meu e Deus meu! Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste?;...”
       — “Não terá Tomé exclamado para Deus numa tontura extática?”
       Santelo esperava por essa proclamação faltosa de fé. Procura outro texto, procura mais outro...
       Ao fim de dez passagens despedem-se. A porta de saída do quintal Galdino diz:
       — “Agora só falta ouvir o que o pároco tem a falar.”
       Lá no final da rua Santelo olha à ré. Galdino faz-lhe um sinal. A mão parece pequena no aceno indecifrável.
            No grupo, alguns aguardavam um bom júbilo; desgosto visível em Pureza e zanga jucunda em Pola.
       — Faz-me o favor de falar: qual das tuas falácias se pode considerar?
       — Olha aqui, ó Castão, caça na massa cefálica mórbida centelha de fé, pois quem não tem querer, precisa crer.
       — Não duvidas do teu dito? – diz Arbítrio tristonho. – Tanto Deus nos deu; tudo nos deixou! Dentro de nós ou não, de nosso nada temos. É tudo dele!
       — Jazer na grandeza duvidosa é considerar a basbaque direção visionária.
       — Pensas como tola; te cansas com a dança terreal. Com fé podias trocar o passo dessa polca e dançar o balé do Criador.
             — Proponho o tema fraternidade! “Pondera, ó chato Castão, se tens projeto superior para considerarmos”, pensou Pôla após a fala, querendo fazer conhecida sua superioridade filosófica.
       — Qual a gnose?
       Pôla calou, gaguejou com a questão, gargarejou ruídos querendo contestar o gongorismo.(*)
       — É o ganho religioso que te contenta! - completou Castão rumorejante.
       — Vamos debater governados do bom juízo? disse Arbítrio aos dois zangados.
       — Como ponderar sobre a fraternidade? Se a chamamos de sentimento fiel temos de conceituar a fidelidade.
       — O que é ser fiel, Castão? – pergunta Pôla.
       — Diria isso de um dom governo verdadeiro.
       — Mente: é boa probabilidade?
       — Materialmente pode mostrar-se boa. Mas precisa de bondade para o bem produzir.
       — E Bondade é virtude divina – garante Arbítrio –. Em gente vil bondade vem e vai. Virtude é gestão vencedora de Deus.

       — Subjugastes fraternidade aos predicados supremos e fostes perspicaz – pondera Póla –. E igualdade, podemos tê-la com o Supremo?
       — Esse tema seduz, sibila Pureza.
       — O Todo-Poderoso nos fez do pó. Contudo, pode tudo o Senhor e chamou-nos para Si pelo Filho querido, que é tal qual somos.
       — Falas sobre o Cristo?
       — Sim, Jesus fez-se homem e salvou-nos da vil separação.
       “A Pôla muda para a banda bendita?”, pondera Pureza.
       “Deixa-se nascer de novo!”, não titubeia o Trindade.
       “Vê, afinal, a justiça !”, julga Infausto, visivelmente feliz.
       — Cristo te salva e te faz filha do Pai! – exclama Castão querendo persuadir a titubeante Pôla.

       Tudo isso pensam e falam num dia que se chama: hoje! Passado histórico imperando sem se tornar impositivo.
       “Querem retê-la no redil.”
       “Rogam ganhá-la para Cristo.”
       Pôla rola os olhos. Pondera a fé em todos. Sente claudicar o pulsar do compromisso e fecha-se na ponderação das possibilidades tantas que chamam de fé.
       — Se restringe a liberdade? Sob a realeza zenital estarei subjugada?
       — Liberdade zanga com a realidade se levares a sério o zanzar desta lida.
       — Jorra do jacá de Deus?
       — O Senhor a tem em si, pois é o Todo-Poderoso. Tú podes tudo ó Pôla?
       — A Bíblia diz: “Deus é espírito”. Na jeira* de Deus o governo é dos espíritos.
       — Voltas ao gnosticismo espiritualista.
       — É gnose comprovada – garante Pôla.
       — Te sustentaste na Palavra e agora foges tentando as fracas possibilidades kardecistas. Se crês em tudo, te faltarão convicções. Falar pela Palavra é suficiente.
            Arbítrio levava a rixa pelas rédeas da lealdade. Sozinho, o zelo do seu Rei se impunha. Calavam-se os demais percebendo a tutelar garantia da Palavra de Deus, pois ele botava boca afora os conselhos da Bíblia.
       — Por que temeria eu se falhassem as promessas do Todo-Poderoso conforme as tenho na Sua Palavra e estivesses tú certa?    — Conforme os kardecistas eu tornaria a ser.
             — Contudo, se falharem os kardecistas e forem certas as palavras do testemunho dos profetas, que possibilidade terás de ser chamada ao céu, se para o além partires sem Cristo?
       Pôla parecia gelada, pois tinha as bochechas desbotadas. Arbítrio dirigiu-lhe um gesto bondoso, como a dizer-lhe: queda-te confiante. Depois continuou:
       — Falaste: “Com farnel de boas obras, o breu da noite nos devolve à vida”. Julga bem: Deixará Deus dois espíritos vivendo na vileza* e vasculhando a jeira Dele?
       “Mostra-se minguado o bom senso de Pôla” ? pondera a bondosa Pureza.
       “Debate-se na dúvida”? – deduz Trindade.
            “Sente-se reprovada diante das zelosas sutilezas daquele seguidor do Senhor? –  reflete Infausto.
       Cabisbaixa, Pôla sacode as pernas.
       — Quantas tolices tenho pensado sobre tudo quanto pedes para pronunciar-me. Presentemente posso calcular que tudo quanto eu cria era falso. Quero a Cristo tanto quanto tenho percebido ser o querer de todos os chamados seus.
       Assim, lindo mundo mostrou um novo amanhã conquistado por Pôla.





*gongorismo - excesso de metáforas, antíteses e anástrofes
*jeira - A extensão de terreno que uma junta de bois pode arar num dia
*vileza - que vive numa vida