quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Crônica

O que remiria minh’alma

                 Carlos Mendes

Os viventes no auriverde torrão alienaram o que não podiam deixar escapar.
Ao falar assim eu penso em um bem significante e com tanta clareza esquadrinho o seu alto valor, que “se não o vejo e o espírito o afigura”(1) conformar-me não posso com os olhares postos nas dedicações estranhas ao meu preferido interesse.
Aurifulgente pepita de quilate inexcedível é a honra. E que outra virtude a excederá?
Mais pareço um desvairado ao ver, inconformado, o que acontece com as preferências do meu povo brasileiro. Ele ama-se acima da estima de um patriota pela sua nação. Faz de ventos sua azenha; está sempre “no mundo da lua”, enlouquecido pela inútil fama pessoal, alienação e angústia girando como calidoscópio num visor de fama pessoal, que tirado do olho atento aos movimentos dos desprezíveis vidrinhos produzindo brilhos coloridos como se safira fossem, nada mais deixam à vista senão a realidade de um tubo enganador.
O que redimiria a minha alma, devolvendo-lhe as antigas querências, pois, como gado doméstico eu permaneci prazerosamente sob boas tutelas paternais? A vida boa familiar se apegava ao sentimento anunciado nas capas dos cadernos escolares onde pela primeira vez eu li: “a pátria é a família amplificada” (2), frase que testemunhava das amizades com os vizinhos sentados em bancos postos juntos às cercas fronteiriças das propriedades e para onde se achegavam os visinhos, às vezes da quadra inteira. Naqueles bancos comunais arranjados com alegria por quem à rua aparecia primeiro, sentavam-se visinhos doutores, pedreiros, motorneiros, funcionários públicos!...
Essa gente antiga devia agora ressurgir para levar-nos em passeata até os palácios dos poderosos, que poder receberam dos nossos votos. Dona Prazeres, certamente levaria consigo a sua vassoura de palha e a meteria nos fundilhos dos ladrões que roubam o erário e envilecem a nossa estremecida pátria.
Ela não ficaria apenas falando bonito, o quem nem sabia fazer. Mas a sua vassoura muitas vezes falou mais eloquentemente do que todos os famosos discursos dos empolados oradores de hoje, fustigando com ela os fundilhos dos filhos malandros, que com este expediente de mãe responsável aprenderam a ir no horário para as escolas e, mais tarde, para o trabalho de onde tiravam o sustento digno para suas próprias famílias.
Caminhar sobranceiramente é nosso dever, pois a gloria pessoal redunda no fastio de nós mesmos. E perto estamos de nos enojarmos de nós mesmos, pois há muitos com injustificável poder a humilhar-nos até a infamante condição de escravos.
Antes preferisse à fama passageira do assinar reportagens ocas, o caminhar nobremente junto a outros, tangidos como eu pelo ideal da entrega cega, olhos tapados para o promíscuo luxo da fama e do reconhecimento de valores individuais.
(1)Manuel Bandeira
(2) Rui Barbosa
  


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

ARTIGO: ACORDA BRASIL

Vamos evitar que o Brasil assuma Cuba e Venezuela, ou não?!


Reflexões de um contra-revolucionário

Réquiem aos inocentes úteis
Carlos Mendes

Pequeno Dossiê
BRASIL
Anos de Chumbo
Segundo escreveu o amigo Walter, passando-me a matéria abaixo, que “circulou numa revista de pouca circulação”; uma ironia, com certeza, pois há um “lay-out” da Revista Abril e citações de publicações em jornais nacionais de grande circulação:
“Quando na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva aprovou o Ato Institucional número 5, acabando com o que restava dos direitos civis e dando carta branca à repressão, muitos jovens ganharam o motivo que lhes faltava para pegar em armas. “A partir desse momento a luta armada se apresentou como uma alternativa razoável” afirma a historiadora Beatriz Kusbnir, diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. “O golpe de 64 me despertou para a política. E o AI-5 me levou pra a luta armada”, resume o fotógrafo carioca Paulo Jabur, que entrou para o MR-8 em 1969.”
No Brasil formou-se um divisor de águas entre os ideais gramscistas e o da democratização do país, isto ante um desafinado contraponto revolucionário inspirado por “Sierra Maestra”, este, “acabando” por apaixonar os seguidores do psicopata Jânio Quadros e o seu vice, João Goulart.
Esse divisor, para mim, apresentou-se com clareza meridiana, pois há uma experiência pessoal que vivi entre 1955 a 59, que em 1998 ganhou algumas páginas no capítulo V de minha auto-biografia romanesca: “Bacia do Macuco”, capítulo que recebeu o título: “O quebra cabeça”. E esta experiência pode ser entendida como um “insight” igual ao que ocorre na experiência psicanalítica. Algo que, estando tão somente a nível inconsciente na mente, especuladora e sofredora enquanto não iluminada pelo fato inquietante que nela flutua, incognoscível, com seus contornos quase indefinidos querendo revelar-lhe a forma.
Esse penetrante, incitante e inquietante desafio eu passei para os leitores da autobiografia que escrevi (ainda disponível economicamente em caderno grampeado).
O insight trouxe-me grande ganho psicológico, pois me ajudou a compreender, creio que tão bem quanto o insigne Castelo Branco e seus aliados ideológicos, entre eles o grande mineiro e democrata Juscelino Kubitchek, onde nos levaria as inflamadas preferências de Jango, manipulador de elos nos discursos de líderes sindicalistas da classe trabalhista, todos, à época, inspirados por Sierra Maestra. Milhares, senão milhões de circulares entravam no Brasil principalmente pelos portos de Santos e do Rio, vendo-os eu, pessoalmente, serem distribuídos entre os petroleiros e petroquímicos, em Cubatão. Essas distribuições, e os discursos concorrentes para o mesmo fim: “Revolução Comunista” eram instrumentos insufladores distribuídos e discursados pelas agremiações sindicais surgidas em função dos poderosos nichos de trabalhadores especializados que os setores automobilístico e petrolífero exigiram nas décadas de 50 e 60.
Afirmo em função destes fatos históricos, que vivi pessoalmente entre uns poucos milhares de técnicos-químico-  operacionais especializados, tendo eu pertencido ao primeiro quadro dos que colocaram em funcionamento a Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, primeira a entrar em funcionamento no Brasil, em 1955.
 Afirmo também, que já existiam estratégias muito bem planejadas por líderes comunistas preparados para alinharem, à nível de confederações, a união desses novos e promissores setores da economia brasileira, como planejamento do golpe comunista-castrista no Brasil, a partir de Cubatão e capital do Rio.
Em Cubatão, coube-me proclamar, e liderar em 57/8, uma justíssima greve geral entre os petroquímicos, primeira centelha reativa do golpe de 64, afirmo-o com toda segurança.    
 Juntando-se a tudo isto, alinharam-se ainda militares das classes subalternas, que em 1964 encamparam os ideais daqueles novos líderes sindicais, fortalecendo, assim, a persuasão ao engajamento das forças políticas dos fautores da ideologia comunista no Brasil.
Mas os atores do romanesco Fidel, autor de um tema ultrapassado, que só o insano de “Sierra Maestra” quis continuar reapresentando, isto já às vésperas de a Rússia tirá-la de cena. Mas essa peça surrada, sem outro público para assisti-la senão os que lá em Cuba eram obrigados a exaltá-la apaixonadamente por Castro, tinha como expectadores alguns brasileiros bem medíocres como expectadores nesse palco burlesco chamado Brasil, e nós vimos nas décadas subseqüentes a de 64 a reapresentação dessa peça de mau-gosto, e surrada, ser repetida sob inspiração gramcista, a cuja representação juntou-se posteriormente o palhaço que o público do “circo Brasil” elegeu por duas vezes para presidir nosso país.
Duas décadas depois, a frustrada reivindicação de 64, ganhou palcos para representação do que então viraria uma retumbante “palhaçada”: Sindicatos de Classes Operárias que, em função do real desejo de seu “palhaço-mor”, jogou dezenas de milhares de seus adeptos nas piores periferias do Grande São Paulo! Perderam as lindas residências no ABC para cobrirem as perdas dos grandes salários, os quais foram conseguidos como massa de manobra entre o Lula e os capitães das empresas, que precisavam urgentemente fazer suas multinacionais entrarem na era do CQT.[1]
Mas o palhaço também era um patife, Ele negociou greves com os competentes diretores das multinacionais da Via Anchieta e de todo o Grande ABC.
A truta, que ambas as partes (empresários e pelego de ambição desmedida) ganhariam para dar ensejo à custosa dispensa de grande quantidade de mão-de-obra especializada para as empresas entrarem na era do CQT, que ofereceria às empresas elevadas performances de produtividade que poderia em breve tempo chegar a trezentas vezes mais e, ainda, uma fantástica diminuição nos gastos fixos relativos aos altos salários das dezenas de milhares de funcionários especializados demitidos, só na Volkswagen.
Ganhou o Lula, que embolsou considerável fortuna para si e párea o PT nas negociações das dispensas dos operários especializados. Ganharam as empresas, cujos capitães sorriam a larga com o formidável ganho do CQT[2] vendo os bobões aduladores dele, ufanoso “grande líder”, que aproveitava a ”nova era” para, outra vez, enriquecer e fortalecer-se politicamente, até ganhar seu primeiro pleito a Presidente da República brasileira.
Inaugurava-se a era do PT, com apresentações ao vivo por redes de televisão, explorando o ganho da popularidade que a Grande Mídia oferece.
Essa massa difusa, hipócrita e insensata que hoje dá ibope a quem interessará? O tão propalado “mensalão” é como “trocados” em função do que vocês: enganados e expoliados perderam e nos fazem perder.
Diríeis que ganhou o parque industrial, que enriqueceu-se, ensejando a riqueza nacional... Pois sim! Não vês, ó cego petista que o teu país continua essencialmente sendo sustentado por uma economia quase que essencialmente agrícola?
És cego para ver quem enriquece? Não sentes em tua própria pele (e na dos teus filhos) que tu e teus irmãos empobrecem sempre mais?
Não és capaz de ver que até mesmo os Estados Brasileiros do sul, que sempre sustentaram a nossa nação, empobrecem?
É burro, ou demônio como os teus líderes petistas?!...
Pusestes a batuta do nosso país nas mãos de um “cachaceiro”! Não tenho nada contra os viciados em cachaça, desde que não se metam a querer governar o que quer que seja. Se tu fores um cachaceiro, apesar de seres  “cara” com estudo, com honestidade me diz, estando tu embriagado: Podes dirigir se quer um carro? E o que me dizes: “Uma nação” com 200 milhões de habitantes?! Achas mesmo que foi o Lula o governo do teu país? Te digo, foram os malditos “mensaleiros”: o safado do Dirceu e outros da estirpe dele que governaram. Governaram inclusive o Lula!
Não és capaz de calcular o mal que fizeste a ti, a teus filhos, mulher ao te apaixonares por um político safado, que com oito anos de trabalho na Volks deixou o torno corta seu dedinho mindinho, pois a lei trabalhista lhe garantia aposentadoria integral por invalidez! Invalidez! Por um dedinho cortado!
Aos meus 82, começo a ser prejudicado, isto depois de uma longa carreira como empresário, que pagou impostos, aposentou a muitos, como eu, só que, como eu, estão vendo suas aposentadorias, ganhas por longos anos de trabalho (eu aposentei com mais de 40 anos de trabalho), não representarem quase nada em relação ao valor original
Quiseram, recentemente, trazer de volta ao palco as apresentações aterrorizadoras da peça comunista que inspira temor, quando tentaram montar a peça gramscista. Mas se ainda não vimos sua apresentação acabada, por outro lado continua sem ser conhecida a peça democrática, que tantos deleites libertários derramam sobre povos protegidos por esse sistema de governo ideal, se construído por povo e governo leais a seus preceitos.
Ligando eras políticas da década que se seguiu a partir de 1955, vimos os adolescentes daqui preparados ao engajamento na militância comunista. A pregação dos grandes líderes sindicais, devidamente catequizados por “Sierra Maestra”, infiltrou o discurso castrista como uma contra-cultura política nos costumes civis dos nossos jovens, incitando-os a uma contra revolução comunista, acintosa posição que, dez anos mais tarde  tentava impor-se contrariamente ao golpe militar de 64, que Sierra Maestra sabia, sim, ser mortal aos sonhos de expansão de sua frágil doutrina onde a esquerda - mais um ponto divergente da doutrina capitalista de Fulgêncio Batista do que uma noção sábia para a necessária reforma política do sistema -, certamente não totalmente recomendável ao nível de uma boa convivência democrática.
Assim, muitos dos nossos jovens se perderam para os ideais de liberdade ao se engajarem numa ideologia totalitária. Cruel paradoxo!...
Réquiem a estes inocentes úteis, que sem saída possível depois do engajamento, foram ceifados ainda jovens pelo confronto armado contra outra ideologia totalitária pós-castelista, a qual se justificava pela necessidade de um contraponto impositivo, que nada tinha a ver com a questão: Comunismo ou Democracia.
Carlos Mendes
Escritor e poeta; ex-colunista dos jornais “Correio do ABC(1996/97) e da seção cultural dos Sete Jornais de Bairro em Mauá(1997/98). No ano 2.000, escreveu a apresentação ao projeto “O Brasil e a Mídia”, que o MINC colocou na Galeria NO  TREE, em Berlim.    



[1] Você, petralha, não sabe o que é? Procura um mestre da FAAP que ele te conta! Não duvido que depois de saberes continues PTista! Tua paixão embota o teu entendimento, e o teu país vai pra m...
[2] CQT – Controle de Qualidade Total.