sexta-feira, 21 de junho de 2013

Café des Phares

Comentário ao artigo: “Paris tenta iluminar crise com filosofia nos cafés”, Caderno “Mais”, jornal Folha de São Paulo.
24 de março de 1996
Da coleção “Penetra em Selva de Poeta”
De: Carlos Mendes





Fala Lévi-Strauss
aos filósofos dos cafés:
“O mundo não me interessa mais”.
Esse, que o anthropos devia conhecer,
arruína, indiferente,
o que já era decadente.
Fora dos cafés,
juntando-se ao fugitivo penseur
abandonando a vida,
na filosofia do “L’Odeon”,
ou na qualidade de membro das academias,
influenciando os pensadores,
a lógica das transformações,
ou o “in fiere” de Deleuze,
leva ao caos as convicções.
esses tíbios pensadores
comprometem o entendimento
e desta feita transformam
Os filósofos em palradores.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O menino e o Urso
                  Carlos Mendes
  
   Para ilustrar a embaraçosa situação de uma pessoa tentando se livrar de algo que insistiu em conseguir, um dos mais notáveis estadistas que a raça humana produziu - mestre na arte de referir episódios da vida através de alegorias -, contou certa vez esta história:
   “Um menino desejoso de possuir um urso verdadeiro, insistentemente aborrecia diariamente o seu pai pedindo que lhe comprasse um urso de verdade.
   “Cansado com a obstinação do filho, o pai trouxe-lhe finalmente um ursinho recém nascido, que por muito tempo constituiu-se a alegria do menino.
   “Crescendo o ursinho, atormentava o menino com brincadeiras nada delicadas, arranhando-o e destruindo os seus brinquedos.
   “A situação tornava-se insuportável e o menino maquinava agora como livrar-se do incômodo animal sem expor-se à reprovação do pai, que lho dera.
   “Acostumara-se a passear com o ursinho amarando-lhe uma corda ao redor do pescoço, o que repetiu num certo dia com um intento diferente, sendo o animal já bem crescido. Cansado e desanimado ele sentou-se à calçada de uma rua.
   “Passando por ali um homem, viu aquela cena insólita e deteve-se junto ao menino, perguntando-lhe: -  “Menino, o que você faz ai com esse animal horrível? Por que não o solta?
   “O menino encostou o dedo indicador no nariz e sussurrou: - “O senhor não vê que ele está justamente roendo a corda?”

   Nós temos atitudes muito parecidas com o menino da história. Quando possuímos entendimento, descobrimos que lutamos por muitas coisas que só nos causam males, ou que nenhum bem produzem. Então, como fez o menino, ansiamos delas nos livrar, mas como ele sentimo-nos embaraçados por serem justamente as coisas que escolhemos.
   A Bíblia chama essa contradição de “sabedoria deste mundo” (I Coríntios 3:19), classificando como “loucura da pregação” a exortação do evangelho  para abandonarmos tais coisas e aceitarmos aquelas que Deus sabe serem as que promovem a verdadeira felicidade (I Coríntios 1:21). A Palavra de Deus também diz: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para os que são salvos, é o poder de Deus” (I Coríntios 1:18).
   Têm inventado muitos termos para referir a desventura do homem. Na Bíblia só encontramos um: pecado, que significa tudo quanto o homem deseja fora da vontade de Deus. O pecado é como o urso da história, pois é nosso por nossa própria escolha. E assim como o urso é o pecado. Se, ou quando, ele começa a incomodar-nos temos nisto o sinal que tornamo-nos pessoas conscientes, que sabem discernir bem os bons valores da vida. Mas o incômodo urso não faria tanto dano ao menino quanto o pecado faz ao ser humano, que por este permanece destituído do poder do Espírito de Deus.
   Diante do dilema: Cauterizar a consciência ou livrar-se do pecado, o ser humano não pára de sofrer.
   Como o urso, o pecado começa a roer a corda quando nos inclinamos a ouvir “a loucura da pregação” do evangelho de Jesus. Vai embora quando pela fé em Cristo a entendemos e a aceitamos (1Coríntio 1:21).
   Sem o pecado as dores perdem a dimensão do infortúnio e passam a ser perfeitamente suportáveis. Esse livramento é obra do amor de Deus, tão infinitamente grande e inexplicável como o próprio Deus. A Bíblia até declara que Amor é o próprio Deus e ainda fala assim desse amor: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16).
   Para o livramento da opressão do pecado é preciso confessar Jesus como único Senhor (Romanos 10:8 e 9). E a verdadeira fé na sua ressurreição leva-nos a crer que, assim como ele ressuscitou dentre os mortos, ressuscitaremos também pelo Seu poder (I Coríntios 6:14).
   Que o leitor viva em Cristo para Deus é o que lhe desejam todos os que para Ele já vivem.


NOTA:  Esse Conto Ligeiro data de l981, quando circulou numa edição com dez mil folhetos. O autor era, então, evangelista pela PIB em Suzano.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Capitalismo e religião

Em 1921, Walter Benjamin escreveu um breve artigo que viria a público somente após sua morte: O capitalismo como religião. Nele o filósofo acreditou ter decifrado três das principais características da sociedade capitalista de seu tempo, enquanto fenômeno intrinsecamente religioso.
O capitalismo seria, em primeiro lugar, uma religião essencialmente cultual: o dinheiro, a riqueza, etc., representariam as divindades às quais se deveria servir, impreterivelmente e sem vacilação. Segundo: o culto preconizado pela religião capitalista não possuiria um dia ou uma ocasião específica para sua realização: ele sreia permanente. E sobre isso o filósofo afirmou: “Não há dia que não seja de festa, no terrível sentido da ostentação sagrada, da tensão extrema que reside no adorador.” O terceiro traço: o culto que esse sistema produziria seria culpabilizador e sem a possibilidade de expiação. Como consequência, as pessoas s4eriam tomadas de um desespero renitente e cruel, sem qualquer chance de redenção.
Ao travar, mais tarde, contato com a obra do húngaro György Lukács, em 1924, o filósofo alemão acabou abandonando algumas daquelas idéias. Ele aproximou-se do marxismo, deixou de condenar o capitalismo como religião e passou a criticar o culto fetichista da mercadoria, analisando as galerias parisienses como “templos do capital mercadológico”. Em nossos dias, coube ao italiano Giorgio Agamben retomar e desenvolver algumas das antigas reflexões benjaminianas sobre o capitalismo como religião, dando a elas uma fundamentação um pouco onde subsiste a maioria das pessoas.
Para fundamentar teoricamente sua reflexão, o filósofo serve-se dos escritos dos juristas romanos do passado, tema diferente.
É verdade, diz Agamben, que o capitalismo possui cultos, que esses cultos são permanentes e que a culpabilização gerada não oferece possibilidade de redenção. Mas o que é mais fundamental, e que justifica a comparação do capitalismo com uma religião, é o fato de essa forma de organização social estabelecer, em sua própria substância, uma cisão radical que cria a esfera do sagrado em contraposição ao mundo meramente humano, este em que é especialista. Na Roma antiga, afirma Agamben, “Sagradas ou religiosas eram as coisas que de algum modo pertenciam aos deuses. Como tais, elas eram subtraídas ao livre uso e ao comércio dos homens, não podiam ser vendidas nem dadas como fiança, nem cedidas ao usufruto ou gravadas de servidão. Sacrílégio era todo ato que violasse ou transgredisse esta sua especial indisponibilidade, que as reservava exclusivamente aos deuses celestes (nesse caso eram denominadas propriamente ‘sagradas’) ou infernais (nesse caso eram simplesmente chamadas ‘religiosas’).” (Agamben, 2007, p. 65)
Nestas reflexões, religião é, portanto, aquilo que retira coisas, lugares, animais ou pessoas do contato com o vulgo e as transfere para uma dimensão à parte da existência. Não há religião sem separação, e todo tipo de separação feita nesses moldes contém algo de religioso (o dispositivo que realiza a transposição de um determinado ente do mundo dos homens para as regiões divinais é o sacrifício).
Muitas pessoas acreditam, explicou Agamben, que o termo religio deriva de religare (isto é, o que une o humano e o divino), mas essa relação não é verdadeira. Religio deriva, de fato, de relegere que significa precisamente “a atitude de escrúpulo e de atenção que deve caracterizar as relações com os deuses, a inquieta hesitação (o ‘reler’) perante as formas – e as fórmulas – que se devem observar a fim de respeitar a separação entre o sagrado e o profano” (ibid., 66). Religião, então, é exatamente aquilo que separa (e reforça a distinção) entre os mundos humano e divino.
Por outro lado, o que em verdade supera a cisão entre ambas as esferas não é a deferência em relação ao divino, e sim uma atitude de “negligência” para com as normas que a religião estabelece. É essa atividade que Agamben, na esteira dos juristas romanos, denomina de profanação: “Profanar significa abrir a possibilidade de uma forma especial de negligência, que ignora a separação, ou melhor, faz dela um uso particular.” (ibid., 66)
Nesse sentido, explica o filósofo, uma das maneiras de se fazer esse “uso particular” do sagrado e burlar o conjunto de normas que realizam a separação entre humano e divino é a atividade lúdica, o jogo. Conforme suas palavras:
“Brincar de roda era originalmente um rito matrimonial; jogar com bola reproduz a luta dos deuses pela posse do sol; os jogos de azar derivam de práticas oraculares; o pião e o jogo de xadrez eram instrumentos de adivinhação. Ao analisar a relação entre jogo e rito, Émile Benveniste mostrou que o jogo não só provém da esfera do sagrado, mas também, de algum modo, representa a sua inversão. A potência do ato sagrado – escreve ele – reside na conjunção do mito que narra a história com o rito que a reproduz e a põe em cena (grifo nosso). O jogo quebra essa unidade: como ludus, ou jogo de ação, faz desaparecer o mito e conserva o rito; como jocus, ou jogo de palavras, ele cancela o rito e deixa sobreviver o mito. (…) Isso significa que o jogo libera e desvia a humanidade da esfera do sagrado, mas sem a abolir simplesmente. O uso a que o sagrado é devolvido é um uso especial, que não coincide com o consumo utilitarista. Assim, a ‘profanação’ do jogo não tem a ver apenas com a esfera religiosa. As crianças, que brincam com qualquer bugiganga que lhes caia nas mãos, transformam em brinquedo o que pertence à esfera da economia, da guerra, do direito e das outras atividades que estamos acostumadas a considerar sérias. Um automóvel, uma arma de fogo, um contrato jurídico transformam-se improvisadamente em brinquedos.” (ibid., 66-7)
Note-se, então, que no jogo, que é uma das formas exemplares de profanação, as coisas são retiradas de suas relações costumeiras e inseridas em novas relações completamente distintas das primeiras. Um objeto com uma função específica, como por exemplo uma vassoura, pode virar, numa brincadeira, um cavalo. Uma estrutura que envolve determinadas práticas sociais e significados quebra-se para que outra venha à tona.
Contudo, diz Agamben, o “jogo como órgão da profanação está em decadência em todo lugar” (ibid., 67). Em nossos dias, de “religião capitalista”, os homens e mulheres já não tomam mais o jogo como meio de restituir o sagrado ao mundo humano. Não que não haja mais jogos – ou festas e danças, também concebidas originalmente como práticas anuladoras da separação – no contexto contemporâneo. Mas é que, naqueles que hoje existem – os “jogos televisivos de massa”, por exemplo – o objetivo realizado é apenas a instauração de uma nova liturgia, que seculariza por um breve momento o que nas situações diárias é considerado como objeto de culto e reverência. Mas secularização, adverte o filósofo, é diferente de profanação.
“A secularização é uma forma de remoção que mantém intactas as forças, que se restringe a deslocar de um lugar a outro. Assim, a secularização política de conceitos teológicos (…) limita-se a transmutar a monarquia celeste em monarquia terrena, deixando intacto, porém, o seu poder. A profanação implica, por sua vez, uma neutralização daquilo que profana. Depois de ter sido profanado, o que estava indisponível e separado perde a sua aura e acaba restituído ao uso.” (ibid., 68)
A secularização, portanto, muda de lugar um elemento no interior de um determinado sistema de relações que permanece, por sua vez, intacto. A profanação, ao contrário, desativa esse sistema. É por isso que é a profanação, e não a secularização, que deve ser perseguida por aqueles que não querem se deixar aprisionar pelo culto culpabilizador (e desesperador!) da religião capitalista.
O capitalismo, diz Agamben, generaliza e absolutiza o princípio definidor da religião. Em todos os âmbitos da atividade humana pode-se verificar o processo multiforme de separação que o sistema implementa. É interessante observar, nesse contexto, como o filósofo italiano aproxima tal fenômeno do fetichismo da mercadoria de que falava Marx. Conforme suas palavras:
“Na sua forma extrema, a religião capitalista realiza a pura forma de separação, sem mais nada a separar. Uma profanação absoluta e sem resíduos coincide agora com uma consagração igualmente vazia e integral. E como, na mercadoria, a separação faz parte da própria forma do objeto, que se distingue em valor de uso e valor de troca e se transforma em fetiche inapreensível, assim agora tudo o que é feito, produzido e vivido – também o corpo humano, também a sexualidade, também a linguagem – acaba sendo dividido por si mesmo e deslocado para uma esfera separada que já não define nenhuma divisão substancial e na qual todo uso [no sentido de profanação] se torna duravelmente impossível. Esta esfera é o consumo.” (ibid., 71. Grifos nossos)
Portanto, tudo que é feito, produzido e vivido torna-se mercadoria – tudo é interiormente cindido. A existência social como um todo divide-se e o consumo passa a ser a esfera onde a consagração das coisas é consumada. As coisas tornam-se reverenciáveis por si mesmas, sagradas, veneráveis e acima do universo do humano.
Qual a alternativa? Fazer outro uso das coisas, diz o filósofo: estabelecer uma forma de relacionamento social que elimine a separação instaurada pelo capitalismo e que restitua ao domínio humano o que o sistema aliena para o plano do sagrado. Numa palavra, é preciso profanar.
“A profanação do Improfanável é a tarefa política da geração que vem”, assevera Agamben, sem hesitação. Se estiver certo, as revoluções do século XXI deverão ter um caráter profundamente lúdico e profanatório.
Estes os pensares dos que costumam buscar imortalidades em “tábuas rasas”, coisas ou inven-
ções que amiúde vêem sendo escritas e raspadas sobre a mesma cera das presunções humaas do saber. São coisas que venho aturando ante o fastio do que é a capacidade humana para divergir daquilo que realmente interessa; do que é imutável e da autoria Daquele que é desde sempre e para sempre.
Benjamin e os palradores que o sucederam – e sempre sucederão - não falaram sobre as Palavras Eternas, que registram com sua singular simplicidade o que se lê em 1 Timóteo 6:10: Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.”
A "profanação do improfanável", como Agamben "conclui sem hesitação", para mim é tarefa político-religiosa que não está por vir, mas que acontece desde as barbáries cometidas contra os "Heróis e Mártires", desde o primeiro século do cristianismo.
Se contar com o inhteresse de meus leitors e seguidoires por este importante assunto, começarei e continuarei com as histórias desses heróis e mártires, transcrevendo uma obra que herdei de meu pai que, por sua vez, na década de quarenta herdou-a da biblioteca do Rev. Alberto Augusto, pastor, teólogo e latinista. Essa obra a que me refiro foi editada em 1917 por Juan C. Vareto, profundo pesquisador dos documentos históricos qque datam do século III.
Juntamente com a reedição do texto: "Heróis e Mártires", oferecerei também pareceres embasados em minha própria erudição. 
Carlos Mendes

Referências: Agamben, Giorgio. Profanações. São Paulo: Boitempo, 2007.
GIORGIO AGAMBEN: POLÍTICA DA PROFANAÇÃO VERSUS RELIGIÃO DO CONSUMO, pelo viés do colaborador Demétrio Cherobini*

*Demétrio Cherobini é Cientista social, mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina.

sábado, 8 de junho de 2013

Artigo

NOSSA VIDA SUB-JUDICE
Carlos Mendes

"Adhuc sub judice lis est." A lide ainda está sob [apreciação do] juiz” é a trágica situação de um “reles” civil. Há infinitos exemplos de uma outra ordem jurídica alheia a elementos civis que cobrem, protegem, guarnecem a sanha ilegal dos elementos civis eleitos e/ou nomeados por estes a cargos executivos em qualquer um dos três poderes no Brasil.Vamos eleger apenas um exemplo entre os miríades disponíveis em toda a longa história de injustiças, que vêm a décadas (antes sob o gládio dos monarcas, e depois da proclamação da república, dos políticos, que fazem política em causa própria), oprimindo o indivíduo da área civil no Brasil, que sempre foi e continua sendo “burro de carga”, sobre cujas costas está o pesado Estado brasileiro, sem nunca ter dele obtido a contra partida do benefício público que a outra classe, a política, consegue antes mesmo da primeira instância nos processos de incriminação deles contra a ordem pública que enfrenta e que nunca foi inaugurada oficialmente pelos legislativos brasileiros, quando o sujeito da transgressão às leis é um ente político desfrutando as benesses do poder. Dizem que alhures sucede o mesmo, desfaçatez sem mérito argumentativo, pois a massa humana sem princípios éticos, morais e espirituais é a mesma em qualquer parte do mundo. Nenhuma novidade argumentativa meritória, portanto, nesta torpe, vândala, ignóbil, e não sei quantas mais adjetivações pejorativos caberiam aqui nesta minha argumentação revoltosa.
Que nos maltratem, trucidem e humilhem, proclamo como ente civil. Que façam lá o que quiserem, pois: o que vale a vida sem liberdade, igualdade e fraternidade, anseios que pelos    quais Jean-Jacques Rousseau sofreu desprezos de toda sorte, por pregá-los pela primeira vez como bem social inalienável ao ser politycos como ideais a um regime político justo. Sua obra empoeirou-se nas galerias do saber humano! Foi relegada a simples folclore e não permaneceu ativada na vida pública real, porque pusilânimes são todos os homens do mundo; em todas as épocas o foram (ressalvando-se na da queda da bastilha), e continuam sendo! Por covardia nunca seguem em frente na defesa dos justos ideais. Basta o barulho de um desembainhar de espada; um clic armando o gatilho de uma reles garrucha, e logo o homem se mija de mêdo. E assim segue ele vivendo sob o tacão das botas militares comprometidas com o fausto enganosamente prometido pelos chamados poderosos deste mundo governado por políticos descaídos de todas as virtudes humanas!
Bem, chego ao que de fato propuz excrever neste artigo.    

            Há entre nós “cagadores” de histeria nacional, que redigem uma história nacional que lhes acoberte a histeria pelo poder. Parece-me que entre o final de cinqüenta e início de sessenta foram queimadas as verdadeiras páginas de nossa história, que não nos informaram grandes conquistas nos ideais de liberdade, fraternidade e igualdade, mas que deixaram aberta essa possibilidade. Mas, pelo contrário, entre nós, no momento, tudo está à venda. Até mesmo as consciências cobertas por juramentos acadêmicos.

            Que droga de país está sendo arquitetado pela infame rede dos famintos pelo poder. Nossa pátria é hoje em dia um país conquistado. Nele quase não existe mais o ideal da verdadeira brasilidade.
            Só não consigo entender a escolha atual dos irmãos do sul recair sobre o pulha que os está governando (digo-o quase a rir, pois é muito forte a minha convicção da fraude eletrônica nas nossas eleições). Certa vez, em 62, quando em Porto Alegre mantinha uma filial de minha empresa na Praça da República, e tratava com os empresários locais,  numa famosa barbearia da Rua Da Praia, ou saboreando as carnes preparadas na Taberna Gaucha com a roda de amigos e funcionários locais; quando nas viagens de ônibus entre Porto Alegre e Caxias do Sul, a conversar com outros passageiros, desde gaúchos de Bagé até os descendentes de italianos nas serras gauchas; quando da renúncia de Jânio, gaúchos guapos crentes na virilidade daquele que cedo nos decepcionaria, me perguntaram os empresários, colegas o mesmo que tive de responder as inquirições dos da barbearia, cercando a cadeira deste paulista palrador sobre o que lhe parecia a boa política brasileira: “Che, nós estávamos preparados para marchar para São Paulo e garantir com vocês o governo Jânio...
E agora, lá naquele sul de gente viril, o Tarso! Que barbaridade, Che!
    Estou demasiadamente decepcionado para aceitar a paralisia dos velhos nesta nova quadra de minha vida. Quando jovem, imaginava-os sérios, graves, destemidos defensores de suas enormes proles! Nunca excogitei desistir da luta e agora em nada prezo a minha vida, seja porque estou velho e cansado, seja porque não desejo viver aquele arremedo de liberdade de minha juventude; seja porque essa olhada para o passado significa muito maior herança para eles do que valores que estivesse vendo naquele contexto. Transtornar este dissabor valeria muito mais do que a breve vida que “aqui e agora” tenho de reserva para viver.
     Para que tantos Partidos, quando a teta de todos é somente uma?
    E quantas siglas para nos afanarem!... Para citar só uma: PAC, programa de aceleração da cachorrada.              
              

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Da coleção de poemas "Penetra wm Selva d Poeta / 1999

Soneira 

Quase aturdido 

vejo os algarismos, 

letras sem sentido 

voando nos abismos. 

 

 Números desfilando sem grandeza, 

palavras arranjadas sem proeza, 

pálpebras pesadas se fechando, 

boca se abrindo, bocejando. 

 

 Largo a matemática, 

a rima já sem métrica, 

vivo a vida prática

 e tiro uma soneca 

 30/03/99 

 

Oferta de Amor 

 Grande povo

 torvo monte,

ponte em cruz, 

luz esplendente, 

plenamente 

é a vida oferecida

 05/04/99

terça-feira, 4 de junho de 2013

Brasil, pátria desaforada - Textos de Carlos Mendes

Brasil e moeda forte? Quá, quá, quá...

Jogo posto para o bôbo,
Com desgosto sofre o povo,
Que entregou seu voto tolo.
São compadres desdentados
lambendo nas lixeiras os enlatados
e muitos restos, que espalhados,
Entre muitos bichos, fezes e organismos
Desafiam os débeis intestinos.

Brasil, o cartão do aposentado e muitas outras patifarias

Há vinte anos falo mal de presidente
e juro-lhes que não me arrependo,
pois questões ruins que tinha na mente
Por estes últimos treze, agora entendo

Quando, no cartão de ponto inflexível
andei marcando entrada e saída do serviço
para não perder direitos pelo dedutível,
pois pequeno atraso era  questão de omisso

Agora, frente ao Caixa Eletrônico,
onde enfio meu cartão de aposentado,
olho de soslaio, sorriso amarelo e irônico
ante a minha mendicidade acorrentado!

Se vejo com desprezo presidenta ou presidente,
deputados, senadores e ministros debochados
fugindo, preguiçosos, do dever decente,
Sinto-me bem entre os velhos desdentados!

domingo, 2 de junho de 2013

Novo artigo de Geraldo Duarte

   Achilô

    Geraldo Duarte*

Quem conheceu o saudoso empresário Geraldo Borges Pereira muitos causos dele ouviu. De sua terra natal, Carius, e da que o adotou, Senador Pompeu. Quanto a Fortaleza, dizia ser lugar de muitas histórias para escutar, jamais para recontar. Nunca me explicou o motivo.

Repetia possuir quatro manias. Jogar gamão, fazer palavras cruzadas, ter o Fusca como carro predileto e comer sarapatel. Não trocava o besouro por veículo nenhum. Quando o irmão Marcone procurava demonstrar a insegurança e desconforto do carrinho, ele o convidava a mudar o disco.

Bom garfo gostava dos pratos requintados das cozinhas nacional e internacional, entretanto, houvesse um sarapatel, descartaria os outros.

Hóspede nosso em Brasília, preparei-lhe uma surpresa. Levei-o a um modesto restaurante, antiga casa de madeira dos tempos da construção da Belacap, na barragem do Lago Paranoá. A pedida foi sarapatel. Segundo Geraldo, o melhor que comeu em sua vida.

A conversa até pode agradar, mas o papo é “achilô”.

Contou-me que, em Carius, existia um comerciante que desconfiava até da própria sombra. Documento que possuísse mais de uma via, lia e relia todas. Errasse com um cheque, riscava muitas vezes a assinatura e os demais escritos, rasgava-o até não mais conseguir e, depois, colocava os pedacinhos num recipiente e ateava fogo. Pessoa irritadiça, quando de mau humor, bradava: “achilô, achilô!”. Ninguém sabia o significado.

Certa feita, exasperou-se com o pároco e bradou o termo.

De pronto, o vigário respondeu: “Respeite-me! ‘Achilô’ jamais! Você, em confissão, disse-me o significado e mamãe é pessoa honrada!”.

      *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.