domingo, 2 de junho de 2013

Novo artigo de Geraldo Duarte

   Achilô

    Geraldo Duarte*

Quem conheceu o saudoso empresário Geraldo Borges Pereira muitos causos dele ouviu. De sua terra natal, Carius, e da que o adotou, Senador Pompeu. Quanto a Fortaleza, dizia ser lugar de muitas histórias para escutar, jamais para recontar. Nunca me explicou o motivo.

Repetia possuir quatro manias. Jogar gamão, fazer palavras cruzadas, ter o Fusca como carro predileto e comer sarapatel. Não trocava o besouro por veículo nenhum. Quando o irmão Marcone procurava demonstrar a insegurança e desconforto do carrinho, ele o convidava a mudar o disco.

Bom garfo gostava dos pratos requintados das cozinhas nacional e internacional, entretanto, houvesse um sarapatel, descartaria os outros.

Hóspede nosso em Brasília, preparei-lhe uma surpresa. Levei-o a um modesto restaurante, antiga casa de madeira dos tempos da construção da Belacap, na barragem do Lago Paranoá. A pedida foi sarapatel. Segundo Geraldo, o melhor que comeu em sua vida.

A conversa até pode agradar, mas o papo é “achilô”.

Contou-me que, em Carius, existia um comerciante que desconfiava até da própria sombra. Documento que possuísse mais de uma via, lia e relia todas. Errasse com um cheque, riscava muitas vezes a assinatura e os demais escritos, rasgava-o até não mais conseguir e, depois, colocava os pedacinhos num recipiente e ateava fogo. Pessoa irritadiça, quando de mau humor, bradava: “achilô, achilô!”. Ninguém sabia o significado.

Certa feita, exasperou-se com o pároco e bradou o termo.

De pronto, o vigário respondeu: “Respeite-me! ‘Achilô’ jamais! Você, em confissão, disse-me o significado e mamãe é pessoa honrada!”.

      *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.                                                                                                                      

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