Achilô
Geraldo Duarte*
Quem conheceu o saudoso empresário Geraldo Borges Pereira muitos causos dele ouviu. De sua terra natal, Carius, e da que o adotou, Senador Pompeu. Quanto a Fortaleza, dizia ser lugar de muitas histórias para escutar, jamais para recontar. Nunca me explicou o motivo.
Repetia possuir quatro manias. Jogar gamão, fazer palavras cruzadas, ter o Fusca como carro predileto e comer sarapatel. Não trocava o besouro por veículo nenhum. Quando o irmão Marcone procurava demonstrar a insegurança e desconforto do carrinho, ele o convidava a mudar o disco.
Bom garfo gostava dos pratos requintados das cozinhas nacional e internacional, entretanto, houvesse um sarapatel, descartaria os outros.
Hóspede nosso em Brasília, preparei-lhe uma surpresa. Levei-o a um modesto restaurante, antiga casa de madeira dos tempos da construção da Belacap, na barragem do Lago Paranoá. A pedida foi sarapatel. Segundo Geraldo, o melhor que comeu em sua vida.
A conversa até pode agradar, mas o papo é achilô.
Contou-me que, em Carius, existia um comerciante que desconfiava até da própria sombra. Documento que possuísse mais de uma via, lia e relia todas. Errasse com um cheque, riscava muitas vezes a assinatura e os demais escritos, rasgava-o até não mais conseguir e, depois, colocava os pedacinhos num recipiente e ateava fogo. Pessoa irritadiça, quando de mau humor, bradava: achilô, achilô!. Ninguém sabia o significado.
Certa feita, exasperou-se com o pároco e bradou o termo.
De pronto, o vigário respondeu: Respeite-me! Achilô jamais! Você, em confissão, disse-me o significado e mamãe é pessoa honrada!.
*Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
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