Subia ao quarto
levando um prato de sopa fria.
“Fria, quem sabe ele toma”, pensava
ela lembrando das grandes vesículas ao redor da boca e espalhadas por todo
corpo do marido, prostrado no leito onde ardia em febre.
Olhou
com carinho para o prato com a sopa, que preparara com esmero usando as
verduras e legumes na horta cultivada com adubo orgânico no fundo da casa, de
onde tiravam o sustento vendendo-os na feira local.
Quando
já entrava no quarto, soou a busina de um carro.
― Será a Guiomar? - sussurrou largando o
prato sobre o criado-mudo ao lado da cama para ir à janela verificar,
admirando-se ao vê-la batendo a porta do carro.
― Chegaste rápido demais... Não devias
correr tanto na estrada.
―
Saí de madrugada e assim que me telefonastes—respondeu Guiomar abraçando a
cunhada a quem aprendera a estimar depois de vencer o preconceito dos tolos.
Depois,
examinando atentamente o irmão disse para a cunhada:
―
Isso que o Diogo tem é varíora!
Não
conhecendo a gravidade da enfermidade do marido ela sorria, atoleimada.
A
herdade onde morava ficava distante de recursos e nela um único médico exercia
lá a medicina.
―
Precisamos levá-lo bem depressa para a minha cidade — disse Guiomar assustando
a cunhada.
A
varíola já causara estragos irremediáveis à saúde
de Diogo, que faleceu no dia seguinte ao de sua entrada no hospital, e Guiomar
convidou a cunhada para morar consigo, e esta deixou-se convencer facilmente,
pois além da cunhada nenhum outro parente ela conhecia. Além disso o convite agradou-a, pois
aprendera a amar a cunhada pelo que dele lhe contava o falecido marido.
― Querida, eu não
quero ver-te acanhada com nada — disse Guinar ao apresentar todos os cômodos da
casa à cunhada, procurando deixá-la tão à vontade em sua casa quanto se sentia morando com
Diogo na cidadezinha do interior.
― Você gosta de assistir televisão?
― Lá na roça só o prefeito e o dono
do armazém têm televisão. Eu e o Diogo gostávamos mais é de conversar.
― É..., é muito bom a gente
conversar com quem se ama—disse Guiomar após um longo suspiro ao lembrar que o
mais que fizera na vida fora enriquecer.
No dia
seguinte Guiomar dispensou as empregadas para poder apegar-se mais à cunhada,
com quem concluiu todas as tarefas do dia e conversou animadamente.
Chegada a
noite ligou, por hábito, a televisão, mas continuou faladeira, acontecendo o contrário com a cunhada que parecia estar
gostando de assistir o noticiário noturno. Mas em dado momento Guiomar viu que
ela arregalara os olhos sobre o rosto que tornara-se muito pálido.
Guiomar também
calou-se deitando o olhar sobre o noticiário e ouvindo um repórter que falava
sobre uma possível epidemia de varíola entre os norte-americanos, ameaçados que
estavam por terroristas que intentavam jogar sobre eles bombas contendo o
terrível vírus dessa moléstia.
Escrito
em 27/09/2003
Carlos Mendes
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