quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Artigo


Novo fim do mundo

                                                                                                                        Geraldo Duarte*

Manhã do primeiro dia do ano.

Surpresa, visita, abraço e presente trazidos por ele. O imortal dos imortais das artes e das letras. Bududa.

Antes de entregar-me o mimo, embrulhado em vistoso papel com motivos natalinos, propagandeou o conteúdo. Ofertava-me exemplar da “bíblia da astrologia brasileira”, para tornar-se meu oráculo diário, a partir daquela data.

Abri a embalagem. E eis a publicação “Almanaque do Pensamento 2013 - 101º Ano – O Mais Completo Guia Astrológico”. Ao mesmo tempo, recebi seu conselho: “É imprescindível ler, ainda hoje, as seis páginas iniciais do tratado.”.

Conselho dele é ultimato, seguido de ulterior verificação. Melhor aceitar para safar-se de insistentes cobranças futuras.

Comentou que a edição inaugural foi lançada em 1911, pelo Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, pioneira entidade cosmológica nacional fundada pelo português, radicado no País, Antônio Olívio Rodrigues. O especializado trabalho dedicava-se às praticas do magnetismo, clarividência, psicometria, terapêutica e psiquismo geral, declarou-me.

Em seguida, o bate-papo comandado pelo “Bu” incursionou pelas lides acadêmicas, a culturalidade eclética do Bar do Tico e o projeto da feitura do livro de sua autoria Dois Pontos e Uma Curva.

Até sua despedida, duas horas desde a chegada, somente aceitou água. Três copos. Dieta matinal para limpeza orgânica e refrigério mental, asseverou.

Nada perguntei a respeito. Bem conheço sua potencialidade de teimosiar.

Coloquei o livreto numa mesa de apoio e dei-me às leituras dos jornais, revistas semanais, do correio eletrônico, atendimento a telefonemas de amigos e familiares e, enfim, o “tratado”, despercebidamente, foi esquecido.

Dias passaram e veio a perguntação. Desculpei-me e, de pronto, comecei o folhear do opúsculo, lendo o texto de abertura recomendado. “Horóscopo para o Brasil em 2013”, autoria de Ciça Bueno.

Sabemos que o mundo não acabou em 21 de dezembro passado, entretanto, a fundamentar-se na citada futuróloga-esotérica, a situação desta terra da Copa futebolística de 2014 é altamente preocupante durante doze meses.

Tudo assusta quando Ciça, descrevendo uma Revolução Solar, segundo ela ocorrida em 7 de setembro de 2012, e fundamentação na Numerologia Pitagórica, traça o destino pátrio. Daí, o ascendente da tal Revolução aponta para Aquário, o também ascendente natal do Brasil.

Principia o Deus nos livre e acuda. Chega-se “a casa dos reveses, do karma coletivo e do sofrimento, o que indica alguma pena ou momento de sacrifício (sacro-ofício).”.

Momento inicial da desgraceira. Dentre outras previsões, arrepiam-nos as sequenciadas.

Queda das exportações e da boa imagem do País no exterior. Greves e problemas de descontentamentos dos trabalhadores, advindos de vários setores da economia.

Urano, no vértice de Áries e em quadratura com Plutão, aponta corrupção, confrontos e correrias nas obras de infraestrutura de estradas, meios de transportes e comunicações.

E prossegue: problemas profundos e urgentes a serem resolvidos na educação, fronteiras e rachas políticos, que devem ter soluções inesperadas e radicais, além de imprevisíveis.

Para maior complicação, no Meio do Céu, Marte encontra Escorpião, enquanto Saturno, ao lado de Touro, continua regente anual e dando as cartas.

Outros problemas. Pode haver restrições de recursos, escassez de energia, dificuldades concretas e materiais, complexidades e desafios de várias naturezas.

Não bastassem tantas agruras, a vidente continua sua trilha apavorante.

Conflitos e disputas entre o Executivo e o Judiciário. Crises entre aquele Poder e as Forças Armadas. Aumento da violência. As enchentes recairão nas regiões Norte e Sudeste. Alerta para cuidados em face de blefes e cálculos errôneos da economia, causando reflexos nas bolsas.
Para o quase todo o segundo semestre, reforça a hipótese de problemas na saúde pública, existindo a possibilidade de epidemias.

Parei. Deu apagão total nas linhas de transmissões de meus neurônios e sinapses. Não dá para acreditar em aloprações maiores do que as vividas nos últimos tempos.

Mesmo que o Bududa rompa nossa velha amizade, não lerei nenhuma palavra a mais do Almanaque depois da última das sombrias premonições de sua guia astral.

Vexata quaestio, diria o latinista e ex-seminarista tonsurado Anphilophio Gaspar, presidente da Liga de Retórica e Neurolinguistica.

No crescendo que os presságios avançam, poderá haver a anunciação de novo fim do mundo.

Como em terras brasilis, desde priscas eras, tudo ou nada pode acontecer, melhor precaver. Bati por três vezes em madeira tosca, fiz figa e benzi-me.

                                        *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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