quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A revolução de 64, contada por quem a viu nascer


Reflexões de um contra-revolucionário

Réquiem aos inocentes úteis
Carlos Mendes

Dossiê Completo
BRASIL
Anos de Chumbo
(Segundo escreveu o amigo Walter, passando-me a matéria abaixo, que “circulou numa revista de pouca circulação”; uma ironia, com certeza, pois há um lay-out da Revista Abril e citações de publicações em jornais nacionais de grande circulação:
“Quando na sexta-feira 13 de dezembro de 1968, o presidente Costa e Silva aprovou o Ato Institucional número 5, acabando com o que restava dos direitos civis e dando carta branca à repressão, muitos jovens ganharam o motivo que lhes faltava para pegar em armas. “A partir desse momento a luta armada se apresentou como uma alternativa razoável” afirma a historiadora Beatriz Kusbnir, diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. “O golpe de 64 me despertou para a política. E o AI-5 me levou pra a luta armada”, resume o fotógrafo carioca Paulo Jabur, que entrou para o MR-8 em 1969.”
No Brasil formou-se um divisor de águas entre os ideais de liberdade e a revolução inspirada por “Sierra Maestra”, que acabou apaixonando os seguidores do psicopata Jânio Quadros e do seu vice, João Goulart. Esse divisor apresentou-se para mim com clareza meridiana através de uma experiência pessoal, a qual vivi entre 1955 a 59 e que em 1998 ganhou algumas páginas no capítulo V de minha auto-biografia romanesca: “Bacia do Macuco”, capítulo que recebeu o título: “O quebra cabeça”.
Essa experiência pode ser entendida como um insight igual ao que ocorre na experiência psicanalítica, algo que, estando tão somente a nível inconsciente na mente sofredora, enquanto não iluminada pelo fato inquietante nela flutuando, mas ainda com contornos indefinidos.
Esse penetrante e aguçado desafio, inquietante, repito, eu passei para os leitores de minha autobiografia, ainda disponível economicamente em caderno grampeado.
O citado insight trouxe-me grandes ganhos psicológicos, pois compreendi, creio que tão bem quanto o Castelo Branco e seus aliados ideológicos, entre eles o grande mineiro e democrata Juscelino Kubitchek, aonde ia parar a preferência de Jango pelos componentes dos sindicados da classe trabalhista inspirados por Sierra Maestra através de circulares, que chegavam ao Brasil principalmente pelos portos de Santos e Rio de Janeiro, onde também militares de classe subalterna, em 1964 se acamparam na sede do Sindicato do Metalúrgicos, aqueles e os sindicalistas, ambas as classes com fisionomias carrancudas a tomarem os espaços televisivos e a inspirar-me o temor de o regime democrático capitular ante a propaganda castrista que eu conheci pessoalmente desde 1955 através dos discursos exaltados dos líderes comunistas que chefiavam os Sindicatos dos petroleiros e dos petroquímicos em Cubatão.
 Os adolescentes de 1955, na década seguinte eram jovens engajados pela militância comunista, que sem pejo os engajava na  luta contra a opressão, que eles próprios, no ardor romanesco do discurso castrista haviam dado causa, apaixonando esses jovens pela paixão, pois luta e paixão são ardores próprios de jovens.
Assim, muitos desses jovens se perderam para os ideais de liberdade ao se engajarem numa ideologia totalitária. Cruel paradoxo!...
Réquiem a esses inocentes úteis que, sem saída possível depois do engajamento, foram ceifados ainda jovens pelo confronto armado contra outra ideologia totalitária pós-castelista, a qual se justificava pela necessidade de um contraponto impositivo.
Carlos Mendes
Escritor e poeta; ex-colunista dos jornais “Correio do ABC(1996/97) e da seção cultural dos Sete Jornais de Bairro em Mauá(1997/98). No ano 2.000, escreveu a apresentação ao projeto “O Brasil e a Mídia”, que o MINC colocou na Galeria NO  TREE, em Berlim.    

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