Notícias de Jornal
Carlos Mendes
Transformações chegam sempre atrasadas para quem se acomoda em estado imutável.
Já os apressados são contagiados pela velocidade, pois não concedem tempo ao tempo do modernismo manifestar-se, pelo que procuram diariamente nas notícias de jornais o que amanhã será o devir do que ontem aconteceu.
Menos tensos são os que “vivem a ler novelas, descuidados no vestir”1
Este terceiro grupo não consegue notar a presença do modernismo, senão depois que os seus usos e costumes caducaram, pois, naturalmente, faltaria aos seus significativos a noção dos novos alvos que a frente se apresentaram e que poderiam alcançar, se os percebessem.
Notícias de jornal são tratadas diferentemente por cada um dos grupos acima mencionados.
Para os apressados, as notícias se tornarão rapidamente perecíveis, se o que conheceram ontem volta hoje a circular.
Os menos tensos perenizam relativamente mais as notícias de jornais. São como os poetas e artistas, que preservam o belo e os pensamentos doutrinários do vasto saber humano no presente, pois não descartam o que podem, amanhã, transformar em criações que despertem novas sensibilidades estéticas, muitas vezes somadas à criações de estudiosos de outras áreas. São os que desprezam o tempo na busca do novo!
E os pensadores? Estes dominam como ninguém o “in fieri”² dos ciclos históricos e toda a produção do novo, nas voltas sobre antigas formas do pensar o homem, a vida e o mundo.
(1)”vivia a ler novelas, descuidada no vestir" (Bessa Luís, SF, 102);
(2) Em devir (D. Im Werden), em vias de transformação. Diz-se daquilo culo pensamento envolve uma alteraçãp contínua. Os escolásticos diziam no mesmo sentido (GOCLENIOS, V a, 226B)
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