quarta-feira, 31 de julho de 2013

Crônica

RETRATO DE UMA DEPRESSÃO
Carlos Mendes

Disse uma repórter: “Com a chegada das flores plásticas, nunca faltam flores na praça”.
Fui conferir a existência do presumido belo da florada que imita a ocupação primaveral dos galhos ressequidos nas árvores e nos arbustos naturais e concluí: É beleza morta disfarçando o contratempo.


Adversidade igual e invisível carrega no peito quem não tem mais jeito para a alegria brotando espontaneamente do âmago da alma; e o que tenta imitá-la, só consegue colocar no rosto um convulsionado sorriso, impromptu de alegria ou pulsão de conveniência que logo escapa à alma; alegria que só aceita o alegro saltitante e o vivace esfusiante no modo das execuções musicais, que servem ao gosto das danças aos rodopios, com pares embriagados pela ventura efêmera, que se vão buscar nos salões das animadas e passageiras festividades; triviais alegrias nos corpos e embaraços nas almas depressivas, deduções nos acanhados expedientes de tais fulgores outrora vividos nas experiências, as quais nos levam a enxaqueca muito parecida com a do porre que sucede as grandes bebedeiras.

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