quarta-feira, 3 de julho de 2013

Artigo parenético

Cosmos/Cosmogonia, cosmologia e cosmodicéia

“Passarão os céus e a terra, mas as minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35)
(Edições Paulinas, “Nihil obstat”, Sancti Pauli, mai 1967)

        Falando da relação entre idade do que representam as palavras, Luft trata essa relação com diversos exemplos, interessando-me os de uma reflexão muito particular sobre aquela que nos serve de título ao presente artigo. Diz o filólogo: “Depois do céu veio firmamento — já uma reflexão sobre um espaço firme”. Depois de Deus, divindade — um enfoque da qualidade do SER eterno perfeito, não o próprio SER.
        Antes do pitagórico Renouvier (1815-1903), o cosmos foi citado por Xenofontes (430-352 a.C.) como uma expressão técnica, o que já se constituía um avanço sobre as exposições lendárias ou míticas das origens e da formação do mundo, estas com idades antigas, quando o conceito de cosmos era então um infante cosmogônico na concepção de quem podia olhar o céu sem conseguir perscrutá-lo.
        Mas haviam singelas sinceridades que se auto-reduziam à insignificância do saber humano, precedido que fora pelos portentos de avançada idade e sabedoria, pois, antes do aparecimento da criatura cognoscitiva, fora mister construir-lhe a formidável habitação. Os humildes de coração ainda hoje olham para o mesmo céu de ontem e exclamam: “O Senhor, Senhor nosso, quão admirável é teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” (Salmos 8:1).
        Mesmo no remoto passado houve, assim como ainda hoje há, estados mentais mais evoluídos, espíritos que se deixam iluminar pela verdade quando rejeitam o estado antonômico dela. Menos remoto é o termo Cosmologia. Partindo de Wolf e do sentido conservado entre certos filósofos contemporâneos, como D. Mercier, da Escola de Lovaina, “Kant chama Cosmologia racional ao conjunto dos problemas relativos à origem e à natureza do mundo, considerado como uma realidade. São estes problemas que engendram as antinomias”. (Lalande)          
        E, finalmente, nós temos “Cosmodicéia”, termo criado por Renovier, que assim o aplica: “O problema que se coloca toda a filosofia teísta sob o nome de teodicéia, assume para a razão, independente da crença na personalidade divina, uma generalidade irrecusável, pois o mundo tem necessidade de ser justificado logicamente por um acordo entre seus fenômenos, as suas leis de ordem natural e as leis do espírito do desejo e da vontade, que também contam entre estes fenômenos, de tal maneira que o aniquilamento dos últimos faria desaparecer os outros. Existe, por assim dizer, uma cosmodicéia, problema lógico e moral, antes da teodicéia, problema teológico.” La nouvelle monadologie, art. CXXVIII, p. 454, Cf. CXX.
De minha parte, contando eu com o testemunho da ciência e da teologia bíblica, considero estultice o desprezo da crença no SER moral da criação, pois com todos os milenares avanços do saber a esquadrinhar o universo físico, este sempre oferecerá perene possibilidade de investigações, enquanto durar. Os estultos tomam como sua uma evidência que sempre poderá ser contestada adiante, pois a própria maneira de a criação afirmar-se como verdade, supera a imagem que o espelho do saber projeta falsamente como evidência ao entendimento de cientistas afoitos. Nem mesmo a fala é estável em suas conclusões.  Nem o pode ser, senão na Palavra Eterna que ontem afirmou o que se pode ver hoje e o que será amanhã e eternamente. Um entre os mais eruditos rabinos do judaísmo, depois que se defrontou face-a-face com quem se proclamara “A Verdade”, constatou e afirmou para si e para tantos outros presunçosos como ele fora: “sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso”.

Carlos Mendes.

Membro da IBVG, escritor, poeta e colunista de jornais. Autor do romance “O Milênio e o Tempo”. 

Sem comentários:

Enviar um comentário