Cosmos/Cosmogonia, cosmologia e cosmodicéia
“Passarão os céus e a terra, mas as
minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35)
(Edições Paulinas, “Nihil obstat”, Sancti Pauli, mai 1967)
Falando da relação entre idade do que representam
as palavras, Luft trata essa relação com diversos exemplos, interessando-me os
de uma reflexão muito particular sobre aquela que nos serve de título ao
presente artigo. Diz o filólogo: “Depois do céu veio firmamento — já uma reflexão
sobre um espaço firme”. Depois de Deus, divindade — um enfoque da qualidade do
SER eterno perfeito, não o próprio SER.
Antes
do pitagórico Renouvier (1815-1903), o cosmos foi citado por Xenofontes (430-352 a .C.) como uma expressão
técnica, o que já se constituía um avanço sobre as exposições lendárias ou
míticas das origens e da formação do mundo, estas com idades antigas, quando o
conceito de cosmos era então um infante cosmogônico na concepção de quem podia
olhar o céu sem conseguir perscrutá-lo.
Mas
haviam singelas sinceridades que se auto-reduziam à insignificância do saber
humano, precedido que fora pelos portentos de avançada idade e sabedoria, pois,
antes do aparecimento da criatura cognoscitiva, fora mister construir-lhe a
formidável habitação. Os humildes de coração ainda hoje olham para o mesmo céu
de ontem e exclamam: “O Senhor, Senhor
nosso, quão admirável é teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória
sobre os céus!” (Salmos 8:1).
Mesmo
no remoto passado houve, assim como ainda hoje há, estados mentais mais
evoluídos, espíritos que se deixam iluminar pela verdade quando rejeitam o
estado antonômico dela. Menos remoto é o termo Cosmologia. Partindo de Wolf e do sentido conservado entre certos
filósofos contemporâneos, como D. Mercier, da Escola de Lovaina, “Kant chama Cosmologia racional ao conjunto dos
problemas relativos à origem e à natureza do mundo, considerado como uma
realidade. São estes problemas que engendram as antinomias”. (Lalande)
E,
finalmente, nós temos “Cosmodicéia”, termo criado por Renovier, que assim o
aplica: “O problema que se coloca toda a filosofia teísta sob o nome de
teodicéia, assume para a razão, independente da crença na personalidade divina,
uma generalidade irrecusável, pois o mundo tem necessidade de ser justificado
logicamente por um acordo entre seus fenômenos, as suas leis de ordem natural e
as leis do espírito do desejo e da vontade, que também contam entre estes
fenômenos, de tal maneira que o aniquilamento dos últimos faria desaparecer os
outros. Existe, por assim dizer, uma cosmodicéia, problema lógico e moral,
antes da teodicéia, problema teológico.” La nouvelle monadologie, art. CXXVIII,
p. 454, Cf. CXX.
De minha parte, contando
eu com o testemunho da ciência e da teologia bíblica, considero estultice o
desprezo da crença no SER moral da criação, pois com todos os milenares avanços
do saber a esquadrinhar o universo físico, este sempre oferecerá perene
possibilidade de investigações, enquanto durar. Os estultos tomam como sua uma
evidência que sempre poderá ser contestada adiante, pois a própria maneira de a
criação afirmar-se como verdade, supera a imagem que o espelho do saber projeta
falsamente como evidência ao entendimento de cientistas afoitos. Nem mesmo a
fala é estável em suas conclusões. Nem o
pode ser, senão na Palavra Eterna que ontem afirmou o que se pode ver hoje e o
que será amanhã e eternamente. Um entre os mais eruditos rabinos do judaísmo,
depois que se defrontou face-a-face com quem se proclamara “A Verdade”,
constatou e afirmou para si e para tantos outros presunçosos como ele fora:
“sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso”.
Carlos Mendes.
Membro da IBVG, escritor, poeta e colunista de jornais. Autor
do romance “O Milênio e o Tempo”.
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