quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Parênese


Uma renúncia necessária©

“Quando o eu não é negado, ele é necessariamente adorado” (BLANCHARD). E a graça não visita a casa que permanece trancada pela usurpação do “eu”.
Os familiares deste senhor que agora elejo personagem desta parênese têm filiações com outros que encontramos na divertida crônica “Passeio na Ilha do Seu Usucapião!, escrita pelo poeta Drumunt, que agradou o nosso filólogo Pedro Luft ao ponto de fazê-lo entrar na brincadeira, animando-me ao contributo.
Segundo Luft, do nosso “eu” (o usucapião desta parênese) descendem: usucapiente, usucapir e usucapto. Pela sua demência, este último lembra o Mentecapto, de Fernando Sabino, e anda usucapindo favores ilícitos.
Usucapião, o patriarca da famigerada família é prático na usocapionagem. É um usucaptor. Ele espia, espiona oportunidades de “levar vantagem em tudo”, de ter direito ao uso e gozo de todas as coisas, ou seja, apropriar-se de um cupão permanente que lhe de direitos a usos pessoais irrestritos.
Esse “eu” que assume aqui o personagem usocapião não pode mesmo ter o governo de si mesmo, pois o “eu” exerce um governo maligno cujo fim são dores contraditórias, às quais Agostinho aludiu em “O Sofrimento Universal”. O bem que queremos fora do “eu” se desvanece e estiola nas ações do “eu”.
Usocapião não conhece a fórmula “Amar é ser feliz com a felicidade de ‘um outro’, que Leibiniz nos ensinou. E eu creio que só um tolo consumado aceitaria relações de amizade com alguém vivendo sob o predomínio do próprio eu, o que, hoje em dia, aqui não nos falta.

©Carlos Mendes

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