Uma renúncia necessária©
“Quando o eu não é negado, ele é
necessariamente adorado” (BLANCHARD). E a graça
não visita a casa que permanece trancada pela usurpação do “eu”.
Os familiares deste senhor que
agora elejo personagem desta parênese têm filiações com outros que encontramos na
divertida crônica “Passeio na Ilha do Seu
Usucapião!, escrita pelo poeta Drumunt,
que agradou o nosso filólogo Pedro Luft ao ponto de fazê-lo entrar na
brincadeira, animando-me ao contributo.
Segundo Luft, do nosso “eu” (o usucapião
desta parênese) descendem: usucapiente,
usucapir e usucapto. Pela sua demência, este último lembra o Mentecapto, de Fernando Sabino, e anda
usucapindo favores ilícitos.
Usucapião,
o patriarca da famigerada família é prático na usocapionagem. É um usucaptor.
Ele espia, espiona oportunidades de “levar vantagem em tudo”, de ter direito ao
uso e gozo de todas as coisas, ou seja, apropriar-se de um cupão permanente que lhe de direitos a usos pessoais irrestritos.
Esse “eu” que assume aqui o personagem
usocapião não pode mesmo ter o
governo de si mesmo, pois o “eu” exerce um governo maligno cujo fim são dores
contraditórias, às quais Agostinho aludiu em “O Sofrimento Universal”. O bem
que queremos fora do “eu” se desvanece e estiola nas ações do “eu”.
Usocapião não
conhece a fórmula “Amar é ser feliz com a felicidade de ‘um outro’, que
Leibiniz nos ensinou. E eu creio que só um tolo consumado aceitaria relações de
amizade com alguém vivendo sob o predomínio do próprio eu, o que, hoje em dia, aqui
não nos falta.
©Carlos Mendes
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