Alienação ou angústia - II
Carlos Mendes
Conheci de
perto, diria que cara a cara e ao vivo, o metalúrgico Lula. Eu não o vi bradar
somente palavras desafiadoras aos “inocentes sofredores passivos” na conjunção
do que em Marx se tornara axioma da “mais valia” como meio de exploração da
mão-de-obra pelo capital, que a remunerava com apenas uma pequena parte das dez
que agregava, fossem maiores ou menores as sofisticações tecnológicas
envolvidas nos processos produtivos ao tempo do filósofo.
Depois de
alguns anos analisando e estudando o fenômeno Lula, que se confunde com aquilo
que é próprio do sindicalismo brasileiro, passei a considerá-lo um oportunista
angustiado1 entre a perspectiva da miserável situação dos
nordestinos, pobres e absolutamente desvalidos, ante a vil ambição dos coronéis
nordestinos e a desventura de, como igual nessa tragédia, não poder compartir
com a medrança dos ricos capitães de empresas paulistas, que souberam dar
oportunidade a outros homens capacitados pelos mais variados saberes
necessários ao controle e direção dos grandes conglomerados empresariais e,
também, a nova classe de operários especializados saídos das escolas SESI e
SENAI paulistas, onde na primeira o metalúrgico Lula aproveitou uma única
oportunidade de ensino e aprendizado.
Não falarei da
falta de continuidade em busca de outras formações até chegar a de nível
superior, desperdiçadas pelo metalúrgico em questão. O argumento
sobre essa desídia é bem conhecido pelos brasileiros que habitam os Estados
sulinos, os quais, em grande maneira, jamais desperdiçaram tais oportunidades,
pelo que progrediram e, por isso,
tornaram-se defensores intransigentes
dos regimes políticos que respeitam as liberdades individuais; a capacidade do
homem que sabe agregar capital quando há liberdade de iniciativa; o direito de
enriquecer pessoalmente e com legitimidade; a liberdade e o lícito incentivo
para criar com a fortuna amealhada novas oportunidades para si e para outros
tantos profissionais da indústria, comércio ou lavoura, oportunidades que, se
não as encontram, continuam consumindo pelo trabalho escravo a mísera
retribuição do que lhes baste à subsistência “da mão a boca”2.
Tem razão
Mészáros, discípulo de Lukcás, que combateu as idéias de Lênin. Mas Lukcás foi
obrigado a pagar contributo de subserviência a Stalim, quando da divisão
européia entre o Nazi-Fascismo na Europa Central e o comunismo no leste da
Europa e norte da Ásia.
Marx, cuja
filosofia moldou o pensamento de bem intencionados, excluído Lênin, raposa
raivosa que tão somente serviu-se do legado do grande mestre para criar a
excrescência, que assumida sob o gládio infame de Stalim, subjugou o espírito
do formidável povo russo durante tantas décadas ao explorar o sonho dourado,
mas intangível num regime totalitário, da “consciência de classe”.
Mas o inquieto
Lukács, conforme suas próprias palavras, “estava ébrio de entusiasmo por um
novo começo” quando se propôs a repensar as relações entre Hegel e Marx. Mas,
como expor suas novas convicções sob o abrigo dos domínios stalinistas? Todo estudioso
desta nova fase na obra de Lukács, precisará considerar as evasivas por ele
utilizadas ao expressar o seu novo pensar sobre “consciência de classe”.
O projeto
comunista arquitetado por Lênin e executado por Stalim está tão longe do pensar
de Marx quanto de Lukács e Mészáros, pois com suas teorias da plenitude de
poder totalitário, desvirtuaram-no, dando ganho de causa a Stalim, Hitler,
Mussolini, Fildel e, agora, aos novos e minúsculos postulantes ao
totalitarismo: Chávez e Lula.
[1]
AN-GÚS-TI-A Propriamente, conjunto de fenômenos
afetivos dominados por uma sensação interna de opressão e de estreitamento (angústia) que acompanha de ordinário o
receio de um sofrimento ou de um infortúnio grave e iminentes, contra os quais
nos sentimos impotentes para nos defendermos. (Voc. Téc. e Crítico da
Filosofia, André Lalande)
[1]
Mészaros
Reeditado a pedidos.
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