NOSSA VIDA SUB-JUDICE
Carlos Mendes
"Adhuc sub judice lis est." A
lide ainda está sob [apreciação do] juiz” é a trágica situação de um “reles”
civil. Há infinitos exemplos de uma outra ordem jurídica alheia a elementos
civis que cobrem, protegem, guarnecem a sanha ilegal dos elementos civis
eleitos e/ou nomeados por estes a cargos executivos em qualquer um dos três
poderes no Brasil.Vamos eleger apenas um exemplo entre os miríades disponíveis
em toda a longa história de injustiças, que vêm a décadas (antes sob o gládio
dos monarcas, e depois da proclamação da república, dos políticos, que fazem política
em causa própria), oprimindo o indivíduo da área civil no Brasil, que sempre
foi e continua sendo “burro de carga”, sobre cujas costas está o pesado Estado brasileiro,
sem nunca ter dele obtido a contra partida do benefício público que a outra
classe, a política, consegue antes mesmo da primeira instância nos processos de
incriminação deles contra a ordem pública que enfrenta e que nunca foi
inaugurada oficialmente pelos legislativos brasileiros, quando o sujeito da
transgressão às leis é um ente político desfrutando as benesses do poder. Dizem
que alhures sucede o mesmo, desfaçatez sem mérito argumentativo, pois a massa
humana sem princípios éticos, morais e espirituais é a mesma em qualquer parte
do mundo. Nenhuma novidade argumentativa meritória, portanto, nesta torpe,
vândala, ignóbil, e não sei quantas mais adjetivações pejorativos caberiam aqui
nesta minha argumentação revoltosa.
Que nos maltratem, trucidem e humilhem,
proclamo como ente civil. Que façam lá o que quiserem, pois: o que
vale a vida sem liberdade, igualdade e fraternidade, anseios que pelos
quais Jean-Jacques Rousseau sofreu desprezos de toda sorte, por pregá-los pela
primeira vez como bem social inalienável ao ser politycos como ideais a um regime político justo. Sua obra
empoeirou-se nas galerias do saber humano! Foi relegada a simples folclore e
não permaneceu ativada na vida pública real, porque pusilânimes são todos os
homens do mundo; em todas as épocas o foram (ressalvando-se na da queda da
bastilha), e continuam sendo! Por covardia nunca seguem em frente na defesa dos
justos ideais. Basta o barulho de um desembainhar de espada; um clic armando o
gatilho de uma reles garrucha, e logo o homem se mija de mêdo. E assim segue
ele vivendo sob o tacão das botas militares comprometidas com o fausto enganosamente
prometido pelos chamados poderosos deste mundo governado por políticos
descaídos de todas as virtudes humanas!
Bem, chego ao que de fato propuz excrever neste artigo.
Há
entre nós “cagadores” de histeria nacional, que redigem uma história nacional
que lhes acoberte a histeria pelo poder. Parece-me que entre o final de
cinqüenta e início de sessenta foram queimadas as verdadeiras páginas de nossa
história, que não nos informaram grandes conquistas nos ideais de liberdade,
fraternidade e igualdade, mas que deixaram aberta essa possibilidade. Mas, pelo
contrário, entre nós, no momento, tudo está à venda. Até mesmo as consciências
cobertas por juramentos acadêmicos.
Que
droga de país está sendo arquitetado pela infame rede dos famintos pelo poder.
Nossa pátria é hoje em dia um país conquistado. Nele quase não existe mais o
ideal da verdadeira brasilidade.
Só
não consigo entender a escolha atual dos irmãos do sul recair sobre o pulha que
os está governando (digo-o quase a rir, pois é muito forte a minha convicção da
fraude eletrônica nas nossas eleições). Certa vez, em 62, quando em Porto Alegre mantinha
uma filial de minha empresa na Praça da República, e tratava com os empresários
locais, numa famosa barbearia da Rua Da
Praia, ou saboreando as carnes preparadas na Taberna Gaucha com a roda de
amigos e funcionários locais; quando nas viagens de ônibus entre Porto Alegre e
Caxias do Sul, a conversar com outros passageiros, desde gaúchos de Bagé até os
descendentes de italianos nas serras gauchas; quando da renúncia de Jânio,
gaúchos guapos crentes na virilidade daquele que cedo nos decepcionaria, me
perguntaram os empresários, colegas o mesmo que tive de responder as inquirições
dos da barbearia, cercando a cadeira deste paulista palrador sobre o que lhe
parecia a boa política brasileira: “Che, nós estávamos preparados para marchar
para São Paulo e garantir com vocês o governo Jânio...
E agora, lá
naquele sul de gente viril, o Tarso! Que barbaridade, Che!
Estou
demasiadamente decepcionado para aceitar a paralisia dos velhos nesta nova
quadra de minha vida. Quando jovem, imaginava-os sérios, graves, destemidos
defensores de suas enormes proles! Nunca excogitei desistir da luta e agora em
nada prezo a minha vida, seja porque estou velho e cansado, seja porque não
desejo viver aquele arremedo de liberdade de minha juventude; seja porque essa
olhada para o passado significa muito maior herança para eles do que valores
que estivesse vendo naquele contexto. Transtornar este dissabor valeria muito mais
do que a breve vida que “aqui e agora” tenho de reserva para viver.
Para que tantos Partidos, quando
a teta de todos é somente uma?
E quantas
siglas para nos afanarem!... Para citar só uma: PAC, programa de aceleração da
cachorrada.
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