Crime,
criminoso, incriminar
*Carlos Mendes
O filólogo
Pedro Luft me ensinou que as palavras são “seixos que rolaram em rios de fala”,
na boca de amigos ou nos pensamentos de inimigos, acrescento eu.
A palavra crime pode ser (ou ter
sido) sinônimo de “violação culpável de lei penal”, dependendo do modo e pessoa
do verbo incriminar no tempo em que ele é usado.
Por exemplo, do ponto de vista daquele
que está investido de autoridade legal sobre um “ele” do presente atual ou
histórico, a prática delituosa é crime passível do castigo cominado em lei
penal. Mas este poder de decisão se constitui uma ambigüidade quando a
permissão inferida no exercício do poder é dicotômico em relação ao que se
entende por justiça, se esta não se conformar com o direito, este uma imposição
de atos justos, honrados e honestos.
O fato da autoridade só poder ser
legitimada quando há permissão fundamentada no direito de bem julgar, argumenta
em favor deste meu pensamento, o que num regime democrático é uma autorização
recebida da polis (cidade, estado),
por escolha majoritária entre os seus concidadãos.
Voltando ao Luft e aos seus
conceitos sobre as palavras, concordo com o filólogo: “há uma filiação expressa
em grandeza, onde os filhos serão sempre maiores do que os seus pais”, quando
se fala na relação entre palavras primitivas e suas derivações. Diz ele que, quanto à evolução, “palavras
primitivas são palavras velhas. Palavras que fizeram muito caminho” e fico eu
imaginando como se dará no Brasil a evolução das atuais asserções sobre as
filiações: Povo/democracia, democratas, democratização; justo/justiça,
judiciário; lei/legalização, legalidade, legitimidade; crime/criminoso,
incriminação.
Saber-se-á naturalmente o que me
intriga, perturba e enche-me de cuidados. Enfim, o que me deixa perplexo quando
esquadrinho as possibilidades políticas do nosso país. E por mais que eu tente
encontrar neste ou naquele político, nesta ou naquela agremiação alguém ou
alguma coisa em quem ou em quê eu possa confiar o devir histórico do Brasil,
tenho a sensação de estar cercado de incompetência e falta de caracteres justos,
tais como a honradez e a honestidade, que não são somente desejáveis, senão
indispensáveis ao exercício da representatividade.
E sobre mim mesmo eu concluo que não
é sem razão que reflito sobre a canseira da assistência aos programas
noticiosos, sempre mais repletos de bestiais calamidade: pais marretando o côco
de crianças ou violentando-as bestialmente; de homens ensandecidos com ciúmes
de suas “fêmeas” – pois para tais bestas humanas esposas é que as suas
companheiras não são, no sentido estrito deste nobre termo – matando-as com
agravantes de crueldades.
Canso-me por ser e compartilhar este
mundo de seres disformes da originalidade com que foram criados e fico a
pensar: Meu Deus, o que mais falta acontecer para o cumprimento do “tempo do
fim”, que profetizaste? E isto me faz concordar outra vez com o Luft, desta
feita pensando na estrutura do caráter descaído da humanidade, e repito: sim,
os filhos são mesmo sempre maiores do que os pais; em maldade, concordância que
dá novamente crédito à palavra de Jesus: "Quandfo o VFilgo do Homem
voltar, haverá fé na terra?"
Diante de todas as
evidências históricas a revelar o grande progresso científico casado com o
declínio da moralidade humana e o conseqüente aumento da sua ruindade, que
razões terão os inimigos de Cristo para afirmarem positivamente?
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