Lembranças vivas do “Ricardinho” e de
uma morte em vida
Passou por nossas
vidas como alma sublimada em espelho de felicidade transcendental. Mas, amiúde
o corpo a violava impondo sofrimentos àquele anjo.
Era este o meu falar
referindo-me ao sobrinho velado ante outros tios ali presentes, conversando
durante o velório entre choros e fungares comoventes.
E prossegui ante o
vazar das lágrimas e os fungares: Sua alma se deleitava com as chineladas
corretivas aplicadas com imparcialidade pela mãe nos bumbuns tanto dele, anjo
excepcional que Deus nos dera, quanto do irmão mais velho, já cursando os
últimos anos de boa faculdade de engenharia.
Estas ocorrências,
retratando os sentimentos elevados que de comum se cultiva em famílias estáveis,
onde o amor filial sobreleva-se a hipócrita questão: “que tenho eu a ver
contigo”, me fez lembrar de um reverso fulgurante não merecido por todos, se
uma força compacta e poderosa não nascesse da união puramente fraternal!
Um dia perquiri
desse sobrinho ainda vivo, seus pés alargados, quase duas massas como que
achatadas e quis saber a razão daquelas deformações!
“As vezes as dores
que suporta são tão agudas e prolongadas que ele se auto mutila!...”
Minha compreensão
dilui-se, lacrimosa! Não pela perda, mas pelo achado, embora em ambos os casos costumemos
ser compungidos, parece que pela mesma perda, visto conformados com um vazio
sepulcral. Um, de separação temporária, pela morte. Outro pelo rompimento,
ainda em vida!
É quando a
dor da descoberta que nos leva a julgar que nem todos parecem provindos dos
mesmos pais, que ocorre decepção do descobrir que alguém
quebrou, no próprio sangue, a hierarquia de amor que constrange as almas ao
respeito dos sagrados laços de consangüinidade e fraternidade responsável!
Somos abençoados nas
benditas lembranças, quanto amaldiçoados nas decepções que o “outro que não eu”
da mesma genealogia nos lança em rosto.
Carlos Mendes
13
de outubro de 2013
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