quinta-feira, 28 de março de 2013

Parênese


O nó górdio
Carlos Mendes
  A pátria é a família amplificada? Perguntamos em nome de quem o afirmou e não para quem afirmou, pois já não pode dar resposta a esta questão.
  “Se o casal do nosso visinho enrica e pompeia” - como continua o discurso do Rui -, não nos amofine a sua ostentação,  pois nada têm além daquilo que também podemos possuir, se quisermos, respondamos com desprezo! É só lançar mão do que a pátria nós oferece. Mas aí é que está o busílis, pois a uns poucos a pátria oferece muito, enquanto muitos ficam com poucas oportunidades.
  Eis que acabo de escrever uma utopia. Um mostrengo que se mostra ao visinho da frente, que a tudo assiste nas relações entre o rico ufanoso e o pobre raivoso, fazendo-o tomar partido de um, senão condenar os dois pela visibilidade que lhe oferecem de um monstrengo, (cruzamento de monstrengo + monstro).(¹)
  “Donde vêm as guerras, donde os conflitos que há entre vós? Não é, porventura, disto: das vossas paixões que lutam nos vossos membros?”, indaga Tiago numa das sete epístolas chamadas católicas nas edições paulinas(2).
  Verdade é que os sentimentos nos escapam ao sereno controle comportamental quando algo afeta o nosso “amor próprio”, o que Tiago reduz aos termos negativos do verbete “paixão”. Mas paixão também se revela em amor, e acho que foi esta interpretação que o nosso Rui Barbosa adotou ao escrever “A Pátria”. Ele só foi infeliz quando afirmou: “não vos amofine a ventura de não compartirdes com o mesmo, pois o avultar da riqueza nacional não pode compor-se da miséria de todos”, quando podia ter escrito que o avultar da riqueza nacional não pode compor-se da “opulência de poucos”.
(¹) Monteiro Lobato, Fábulas e histórias diversas
(²) Tiago 4:1

Sem comentários:

Enviar um comentário