Vícios,
suas causas e terapias
Carlos Mendes
As
neuroses já produziram vultosos lucros para muitos psicoterapeutas. Uma
metodologia de tratamento das neuroses surgida na década de 60 mereceu a minha
análise. Ela se difundira rapidamente na América do Norte e já encontrava
muitos adeptos no Brasil. Só em direitos autorais pela publicação dos livros
que escreveu, Norman Vincent Peale embolsou considerável fortuna.
Talvez tenha sido a era de ouro para os
ministros evangélicos que também se especializavam em psicoterapia, consistindo
o método aplicado numa fusão entre técnicas psicológicas adotadas no tratamento
das enfermidades funcionais, com os conceitos teológicos emanados de pesquisas
sérias sobre as libertações espirituais por meio da fé, no poder do evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O doutor e pastor Peale foi um dos precursores
dessa metodologia a comprovar, por intermédio de resultados práticos, a sua
grande competência no domínio da teologia e da psicanálise. Mas, para alguns de seus discípulos, faltou
essa competência e o método, sem os rigores da disciplina científica do dr.
Peale, logo evidenciou que as idéias subjacentes das imbricações entre os
conceitos específicos de cada uma dessas duas ciências, concorrentes para as
suas finalidades, só em casos raros se apresentavam como disposições racionais.
Na maioria das vezes a intervenção do pastor e psicanalista revelava imprecisão
no reconhecimento do problema, gerando uma confusa identificação do tipo de
assistência requerida, levando o pastor a oferecer à ovelha em crise espiritual
uma orientação psicológica, enquanto o neurótico recebia do psicólogo um
aconselhamento pastoral.
Em ambos os casos, esses ministros e
psicanalistas granjeavam a reputação de charlatães, arruinando o bom conceito que
ministros evangélicos sérios granjeavam para o evangelho ou o que psicanalistas
competentes conquistavam para a psicanálise..
André Lalande, ao emprestar o seu talento
crítico na definição do termo comportamento, só recentemente introduzido
na linguagem filosófica para designar o objeto da “psicologia da reação”,
partindo do significado que Claparède deu para conduta, assim se
expressou: “Conduzir-se é governar-se, não se deixar levar pelos impulsos. Por outro lado, ‘inconduite’ é a palavra
francesa que expressa com propriedade a ausência da capacidade de direção
própria”.
O fato de o indivíduo chegar à condição de
alcoólatra ou toxicômano não pode ser chamado de uma conduta ou uma
deliberação. Neste acontecimento nós temos o que Lalande chama de “inconduite”, e na maioria das vezes, e
dentro de um processo natural, o quadro dessa desordem no comportamento humano
só pode ser revertido gradualmente. Esse processo tem início quando o indivíduo
dependente de drogas, num lampejo de força de vontade própria, se decide a procurar
quem o possa ajudar, por caminho seguro, na conquista dos poderes do espírito,
pois eles são necessários para o estabelecimento da capacidade de conduzir-se.
Este
artigo sintetiza uma das palestra que o seu autor pronunciou no auditório do C.A.V
– Centro de Auxílio à Vida. Posteriormente, foi publicado no jornal Correio do
ABC, em 25/01/1995.
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