segunda-feira, 25 de março de 2013

Artigo parenético


Vícios, suas causas e terapias
                                                                       Carlos Mendes

   As neuroses já produziram vultosos lucros para muitos psicoterapeutas. Uma metodologia de tratamento das neuroses surgida na década de 60 mereceu a minha análise. Ela se difundira rapidamente na América do Norte e já encontrava muitos adeptos no Brasil. Só em direitos autorais pela publicação dos livros que escreveu, Norman Vincent Peale embolsou considerável fortuna.
   Talvez tenha sido a era de ouro para os ministros evangélicos que também se especializavam em psicoterapia, consistindo o método aplicado numa fusão entre técnicas psicológicas adotadas no tratamento das enfermidades funcionais, com os conceitos teológicos emanados de pesquisas sérias sobre as libertações espirituais por meio da fé, no poder do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
   O doutor e pastor Peale foi um dos precursores dessa metodologia a comprovar, por intermédio de resultados práticos, a sua grande competência no domínio da teologia e da psicanálise.  Mas, para alguns de seus discípulos, faltou essa competência e o método, sem os rigores da disciplina científica do dr. Peale, logo evidenciou que as idéias subjacentes das imbricações entre os conceitos específicos de cada uma dessas duas ciências, concorrentes para as suas finalidades, só em casos raros se apresentavam como disposições racionais. Na maioria das vezes a intervenção do pastor e psicanalista revelava imprecisão no reconhecimento do problema, gerando uma confusa identificação do tipo de assistência requerida, levando o pastor a oferecer à ovelha em crise espiritual uma orientação psicológica, enquanto o neurótico recebia do psicólogo um aconselhamento pastoral.
   Em ambos os casos, esses ministros e psicanalistas granjeavam a reputação de charlatães, arruinando o bom conceito que ministros evangélicos sérios granjeavam para o evangelho ou o que psicanalistas competentes conquistavam para a psicanálise..
   André Lalande, ao emprestar o seu talento crítico na definição do termo comportamento, só recentemente introduzido na linguagem filosófica para designar o objeto da “psicologia da reação”, partindo do significado que Claparède deu para conduta, assim se expressou: “Conduzir-se é governar-se, não se deixar levar pelos impulsos. Por outro lado, ‘inconduite’ é a palavra francesa que expressa com propriedade a ausência da capacidade de direção própria”.
   O fato de o indivíduo chegar à condição de alcoólatra ou toxicômano não pode ser chamado de uma conduta ou uma deliberação. Neste acontecimento nós temos o que Lalande chama de “inconduite”, e na maioria das vezes, e dentro de um processo natural, o quadro dessa desordem no comportamento humano só pode ser revertido gradualmente. Esse processo tem início quando o indivíduo dependente de drogas, num lampejo de força de vontade própria, se decide a procurar quem o possa ajudar, por caminho seguro, na conquista dos poderes do espírito, pois eles são necessários para o estabelecimento da capacidade de conduzir-se.

Este artigo sintetiza uma das palestra que o seu autor pronunciou no auditório do C.A.V – Centro de Auxílio à Vida. Posteriormente, foi publicado no jornal Correio do ABC, em 25/01/1995.

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