Digestões
As operações de
minhas vísceras abdominais, remoendo os elementos antes encharcados da saliva
durante a cuidadosa mastigação, enfatizam a eficiência do procedimento anterior.
Sinto-me bem
disposto, e sem desgosto me levanto, tiro a mesa e ponho-me a lavar, enxugar e
a guardar os pratos, travessas e talheres. Assim ocupado, faço os cálculos da
necessária caminhada, complemento virtuoso de minha digestão.
Isto é apenas um
sonho besta passando pela insistência produtiva dos pensares, em mim, riquezas
que consistem nas produções intelectuais das virtudes que me faltam. Vejo,
então, que me ocupo tão somente da boa digestão intelectual. Isto, porque desprezo
as práticas? Que responda a letra de um cancioneiro evangélico, que a tempos eu
ouvi: “O coração do homem pode fazer
planos (...) esquadrinhar as condições do mundo e o destino desta vida. Mas, a
resposta certa sempre será e sempre virá, tão somente de Deus.”
As respostas dos
homens eu as conheço, pois sou da mesma espécie, ou seja, a que deixou de ser
semelhança Daquele que tem “a resposta certa”, podendo, então, uma resposta
provinda do meu descaimento presumir a falsa existência de sabedoria superior; neste
caso, se o ouvir não estiver Dela municiado para oferecer resposta como solução
ou refutação, faz do ouvinte uma praça sem defesa contra ataques e ocupações
injustificadas, pois há respostas “esgrimistas”, que classifico fúteis, ociosas
e inúteis para esclarecer questões e fatos com definições claramente
proveitosas ao uso da razão...
... E isto tudo surge no recôndito de minhas lucubrações. É, e ao menos me encontram com o
estômago cheio...
Carlos Mendes,
Escritor e poeta
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