quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Crônica


Digestões

As operações de minhas vísceras abdominais, remoendo os elementos antes encharcados da saliva durante a cuidadosa mastigação, enfatizam a eficiência do procedimento anterior.
Sinto-me bem disposto, e sem desgosto me levanto, tiro a mesa e ponho-me a lavar, enxugar e a guardar os pratos, travessas e talheres. Assim ocupado, faço os cálculos da necessária caminhada, complemento virtuoso de minha digestão.
Isto é apenas um sonho besta passando pela insistência produtiva dos pensares, em mim, riquezas que consistem nas produções intelectuais das virtudes que me faltam. Vejo, então, que me ocupo tão somente da boa digestão intelectual. Isto, porque desprezo as práticas? Que responda a letra de um cancioneiro evangélico, que a tempos eu ouvi: “O coração do homem pode fazer planos (...) esquadrinhar as condições do mundo e o destino desta vida. Mas, a resposta certa sempre será e sempre virá, tão somente de Deus.”
As respostas dos homens eu as conheço, pois sou da mesma espécie, ou seja, a que deixou de ser semelhança Daquele que tem “a resposta certa”, podendo, então, uma resposta provinda do meu descaimento presumir a falsa existência de sabedoria superior; neste caso, se o ouvir não estiver Dela municiado para oferecer resposta como solução ou refutação, faz do ouvinte uma praça sem defesa contra ataques e ocupações injustificadas, pois há respostas “esgrimistas”, que classifico fúteis, ociosas e inúteis para esclarecer questões e fatos com definições claramente proveitosas ao uso da razão...
... E isto tudo surge no recôndito de minhas lucubrações. É, e ao menos me encontram com o estômago cheio...

Carlos Mendes,
Escritor e poeta 

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