sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Artiquetes de Geraldo Duarte




A festa dos urubus
                                                                                                                    Geraldo Duarte*

Numerar e nominar as plásticas cadeiras. Mudar o nome de Bar para Arcádia do Tico.

Projeto do doutor Ribinha, apoio do imortal Bududa e adesão dos esotéricos marxistas e dos anárquicos-fundamentalistas.

Somente os intelectuais tradicionalistas e os livres papudinhos – surpreendentemente – dizem-se em autocrítica.

Sábado. Cedo. Ali, Leôncio, com seu tablet e gelada cervejinha, começando a assistir ao clássico faroeste O Ouro de Makenna. Ouvia-se a canção musical de abertura, Old Turkey Buzzard. Sensibilizante composição de Quincy Jones, com arranjos de Freddie Douglas e interpretação do porto-riquenho Jose Monserrate Feliciano.

No filme, um velho chefe apache rumava para o cemitério sagrado, sob o voar de agourento abutre. Gregory Peck entrava em cena.

Vozerio enxotou a calma. Fez desligar o eletrônico. Prenúncio de discussões e linguaradas.

Mal o cinéfilo descreveu as cenas iniciais, fez-se a contenda. “Sempre foi, é e será assim! Ao prenúncio da morte, à beira do leito, os rapineiros e os vermes armam-se para tirar tudo do futuro morto. Principalmente, se poderoso ou rico.”

Palavras do conservador Lineu, que continuou: “Lembram-se da finada URSS? Morto e embalsamado o premiê. Notícia de gripe. Depois, pneumonia. Sucessor escolhido era comunicado o falecimento.”.

Luzenildo atacou com seu dístico “É a voz do imperialismo americanalhado! Bolivarismo é a salvação!”.

Pacificador, Anapolino, colocou água na fervura. “Evitemos exumar cadáveres e repetir chavões despropositais. Sabemos que, ao sinal de carniça, a festa é dos urubus.”.

Tico, eclético, continuou servindo bebidas e tira-gostos.

                                          *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.       

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