quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vaidade de peru

Geraldo Duarte*

A turma do Bar do Bira recepcionou novo integrante. O professor-doutor Leocaciano Silva, psicanalista e freudiano até na barba e no bigode.

Mestre Abrantes, em nome da Confraria do Copo, teceu efusiva loa e ofertou ao entrante o “amplexo da fraternidade”.

Findos os apertos de mãos e os “muito prazer”, iniciou-se o palavreado. O jogar conversa fora. Miolo de pote à vontade. Bem regados a tragos e tira-gostos.

Ao arrefecimento da batalha de confetes, a inteligência pirotécnica do Bududa manifestou-se. “Léo, acuda minha leiguice. Vaidade é doença?”

Sem rodeios, transformou em aula a indagação. Afirmou que todos somos vaidosos. O quanto do exagero é que conduz ao ridículo e torna-se enfermidade psíquica. E a cura do afetado não reside somente na terapia. Exige sua aceitação como uma disfunção racional.

Eleutério disse conhecer um moço que crê possuir sangue azul, andar sem pisar no chão, ter a sombra colorida, ser o máximo de sua profissão e diamantizador de seus bens. Programa o celular para toques e finge conversar com autoridades. Criasse patos, enxergá-los-ia cisnes. O pai é igual. Parece hereditariedade.

“É caso merecedor de preocupação e estudo. Não se diga hereditário, porém imitativo”. E passou a contar velha fábula chinesa.

Uma pavoa, por não conseguir, invejava o voar e o planar do urubu. Este se extasiava e cobiçava sua abundante plumagem de belas cores. Encontraram-se na margem de um lago, onde viram as imagens refletidas n’água. Comentaram-nas. Decidiram cruzar e procriar. Deles o mundo receberia a ave do mais lindo multicor e de esvoaçar inigualável.

Da cruza, nasceu o peru.

                      *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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