Coprófagos
Era o turno da meia-noite
de um dia e mês de 1953 ou 4, iniciado há pouco mais de duas horas, quando
ouvimos um estrondo seguido de clarão sobre a unidade de óleo cru, primeira da série
de unidades que funcionavam a partir dela, na Refinaria Presidente Bernardes,
em Cubatão, também primeira a entrar em funcionamento no Brasil. Aquela primeira turma
de técnicos brasileiros especializados em operação de petroquímicas, mantinha a
refinaria em funcionamento há apenas dois meses.
Eu e os meus três colegas
da TG, como chamávamos a unidade de tratamento de gasolina, pressentimos por
aqueles sinais uma tragédia acabada, que em seguida confirmaríamos ao ver os três
corpos estorricados dos companheiros sobre o chão de pedra britada da Crude Oil
Unit.
Passados poucos meses
dessa tragédia, um do nosso turno, que trabalhava na mesma unidade dos colegas
vitimados, e também artista iniciante na nobre carreira de pintor de quadros,
ganhava seu primeiro prêmio com o seu trabalho: “Explosão”.
Mas, para as apreciações
em geral, tem uma classe de gente que se diria inferior à classificação de
medíocre; seus representantes, na opinião deste cronista, não tiveram capacidade
para compreender aquela dor compartilhada pela primeira turma de operadores, o que
o seu colega e artista tão bem a expressou em sua obra, ao misturar um punhado de argamassas
com cores flamejantes arremessadas com força numa tela!...
Quantas e sucessivas
tentativas terá feito o Joanis de Morais para ver acabada a realização de sua inspirada
técnica!... E, depois, as críticas mordazes de gente besta, o que mais há neste
mundo de Deus!... Gente tonta e reprimida que se desmerece ao debochar de tudo
quanto há de melhor no embelezamento dos relacionamentos humanos, onde
preponderam as expressões artísticas em geral. Se comparássemos essa gente pelo bom
alvitre dos gourmets, afirmaríamos sobre ela, que faz cara feia por desrespeito e
não por falta de apetência ante os excelentes repastos por estes outros
artistas e bons cozinheiros supervisionados pelos competentes gourmets. E
também diríamos que encontramos coprófagos entre os depreciadores das artes
plásticas plasmadas pelo barro, gesso, cera ou plasticina.
Carlos Mendes
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