quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Crônica


Coprófagos

Era o turno da meia-noite de um dia e mês de 1953 ou 4, iniciado há pouco mais de duas horas, quando ouvimos um estrondo seguido de clarão sobre a unidade de óleo cru, primeira da série de unidades que funcionavam a partir dela, na Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, também primeira a entrar em funcionamento no Brasil. Aquela primeira turma de técnicos brasileiros especializados em operação de petroquímicas, mantinha a refinaria em funcionamento há apenas dois meses.
Eu e os meus três colegas da TG, como chamávamos a unidade de tratamento de gasolina, pressentimos por aqueles sinais uma tragédia acabada, que em seguida confirmaríamos ao ver os três corpos estorricados dos companheiros sobre o chão de pedra britada da Crude Oil Unit.
Passados poucos meses dessa tragédia, um do nosso turno, que trabalhava na mesma unidade dos colegas vitimados, e também artista iniciante na nobre carreira de pintor de quadros, ganhava seu primeiro prêmio com o seu trabalho: “Explosão”.
Mas, para as apreciações em geral, tem uma classe de gente que se diria inferior à classificação de medíocre; seus representantes, na opinião deste cronista, não tiveram capacidade para compreender aquela dor compartilhada pela primeira turma de operadores, o que o seu colega e artista tão bem a expressou em sua obra, ao misturar um punhado de argamassas com cores flamejantes arremessadas com força numa tela!...
Quantas e sucessivas tentativas terá feito o Joanis de Morais para  ver acabada a realização de sua inspirada técnica!... E, depois, as críticas mordazes de gente besta, o que mais há neste mundo de Deus!... Gente tonta e reprimida que se desmerece ao debochar de tudo quanto há de melhor no embelezamento dos relacionamentos humanos, onde preponderam as expressões artísticas em geral. Se comparássemos essa gente pelo bom alvitre dos gourmets, afirmaríamos sobre ela, que faz cara feia por desrespeito e não por falta de apetência ante os excelentes repastos por estes outros artistas e bons cozinheiros supervisionados pelos competentes gourmets. E também diríamos que encontramos coprófagos entre os depreciadores das artes plásticas plasmadas pelo barro, gesso, cera ou plasticina.

Carlos Mendes

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