sábado, 5 de janeiro de 2013

Conto LIgeiro

Os Invasores
Por: Carlos Mendes



Zelo Preocupante fora criado em ambiente onde a desconfiança imperava entre os seus pais. Ele estava para casar-se com Ânsia Patogênica, que era moça rica.
A organização dos esponsais recaíra sobre Mágoa do Haveres, mãe do noivo, que aceitara o encargo para o casamento do filho não começar mal, pois a disposição de Furibundo em relação ao pobretão com quem a filha cismara casar-se , determinara-o provar se os futuros sogros seriam capazes de arcar com o ônus das festividades, sem o que não haveria casamento.
O clima tornara-se propício ao afloramento de múltiplas sensibilidades da súcia reunida para a solenidade e festa dos esponsais. Mágoa desfilava sua frustração com vestido que não lhe pertencia, consolada, contudo, com a presumida jactância de vestir-se bem com as muitas pregas que outrora garantiam o sucesso dos ostentosos, supondo que o traje a deixava em vantagem sobre as demais damas.
Um penetra acompanhava o primo da noiva, e na hora em que a vitrola começou a tocar a valsa dos noivos, ele antecipou-se a Zelo Preocupante e envolveu a noiva despudoradamente em seus braços fortes, espremendo suas cochas e colo junto ao seu corpo,  rodopiando com ela pelo salão. Quando começou a mordiscar-lhe a orelha, o noivo, moço avantajado em relação ao atrevido, puxou-o pela gola do paletó e meteu-lhe um sopapo no nariz que o fez sentar e escorregar o traseiro pelo assoalho encerado.
Que patife esse Baco — explodiu a voz de Mágoa dos Haveres garantindo sua aprovação à atitude do filho.
Por que difamas o coitadinho? - argumentou Luxúria, mãe de Ânsia, olhos postos no bonito rapaz, há muito cobiçosa de passar com ele uma noitada.
Furibundo pôs-se a rodopiar o corpo balofo sobre a perna esquerda dobrada e a direita esticada, mas há muito perdera o jeito do bom capoeira que fora e arrastava a perna esticada sobre o assoalho enquanto repetia:
Quem quiser brigar, me enfrente agora!... Mas logo precisou levantar-se, vermelho e ofegante, espuma de saliva a sair-lhe pelos cantos da boca, pois notara os olhares de viés sobre si quando Luxúria retratara convincentemente a sua cobiça pelo amigo do filho.
Deixa a desforra comigo, pai! Eu sei com quem vou passar a minha primeira noite de núpcias, falou Ânsia Patogênica, olhos entusiasmados dirigidos ao opulento rapaz esmurrado por Zelo Preocupante, que agora se levantava com os fundilhos das calças claras estampando um círculo da cor da cera do assoalho.
Furibundo sentiu o estômago amargar-se pela alteração metabólica que a dupla vergonha provocava. Foi possuído de uma vontade incontida de agredir alguém. Seus olhos se detiveram em Passivo, pai do noivo e único naquele festejo a quem ainda podia esmurrar. Olhos avermelhados pela elevada pressão arterial, partiu bufando na direção do “saco de pancadas” e começou a esmurrá-lo impiedosamente.
Logo todos os convivas se envolveram na peleja e os múltiplos corpo-a-corpo satisfaziam não o intento de porfiar por alguma honra discutível, faces estampando sentimentos confusos de ciúme, inveja, ódio, desejo ardente e lascívia.
Alguém chamara a polícia, que chegou ao local com muitas viaturas, pois numerosas eram as pessoas a se esmurrarem e a se morderem, havendo os que empunhavam facas, espetos de assar churrasco, pedaços de paus arrancados das cadeiras destroçadas, objetos manchados do sangue humano esguichando de cabeças quebradas, membros e troncos cortados ou furados.
Esvaziado o salão da festa de casamento, a fileira dos carros da polícia se colou em movimento. “Para onde estavam sendo levados?” pensou Mágoa dos Haveres, feliz por compartilhar com os ricaços da família da noiva aquela desgraça que somente os pobres conheciam.
Numa determinada altura da viajem os ocupantes das viaturas policiais não conseguiam divisar o exterior, envolvidos que estavam por uma cortina escura.
Por que a viajem demora tanto? - perguntou Furibundo irritado, sem obter resposta dos policiais assentados no banco da frente.
Viajando em outro carro e agradada da companhia do cobiçado rapaz que acompanhara o seu sobrinho, Luxúria era a única pessoa satisfeita naquela viajem de destino ignorado. Coquete ela perguntou:
Para onde estamos indo?
Não lhe deram resposta e nem dela precisou. Logo percebeu que entravam no Hades dos Inconseqüentes.    



 Faça um Roteiro de Leitura de “Os Invasores”?, para ser divulgado nesta seção.

Seguindo as dicas abaixo você pode iniciar-se neste importante exercício literário. Veja um pouco, do quanto esta prática é importante:
Ler, V.t. - É inteirar-se do conteúdo de (um escrito). / V. Int. – Ver e interpretar o que está escrito
Provérbios: “Ler sem entender, é caçar sem colher”; “Quem ler, leia para saber, quem souber, saiba para obrar”
Alguns trechos sobe “Ler”, “Leitura”, etc.: “Nada ele disse, porém a moça leu amor em seus olhos” (AURÉLIO); “Procurou ler no rosto dos ouvintes a reação a suas palavras”; “Leio isso nas tuas mãos” (JUCÁ).

Alguma definições sobre Literatura (e por que não: leitura?): Extraído da “Antologia Da Literatura Brasileira de: A. Medina Rodrigues, Dácio A. de Castro e Ivan P. Teixeira / São Paulo, Marco Editorial, 1979
“Literatura, agora, é tudo o que está escrito com a finalidade de distrair o espírito e agradar a sensibilidade”; “é a arte cuja essência é a palavra e o discurso”; “O essencial é que a literatura seja feita com palavras destinadas a agradar nosso espírito”; “A literatura significa e exprime a vida em maior grau possível”
Sobre os tons: lírico e dramático:
“Se aquele que fala está profundamente contagiado ou emocionado por aquilo que está dizendo, seu tom é lírico”
“Se o poeta, contagiado por seu lirismo, dirige a palavra a alguém, diremos que ele age dramaticamente” 
Uma regra obrigatória sobre o estudo literário de um texto:
“Alguém pode compreender mais profundamente um texto (...) mas não poderá inventar o que o autor não disse. Pode valorizar, discordar do autor ou mostrar a influência a que esteve submetido, Porém, isso não é compreender, é interpretar”
Disto nasce a regra: “A compreensão de um texto, (grifo meu) é obrigatória. A interpretação é livre: é importante compreender bem, para interpretar bem”  

















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